22 de mai. de 2015

Fita Dois.


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Um dia normal como todos, chuvoso, os galhos das árvores balançavam com o vento forte o suficiente para arrancar algumas telhas da cabana velha de madeira. As vidraças rangiam e estralavam como se algo as arranhasse de vagar e sinuosamente. O lago fundo emanava uma neblina espessa e branca constantemente, dificultando a visão direta para aquela área, apenas as luzes do cais poderiam ser percebidas ao longe como alguns pontinhos brilhantes.
Um tanto incomum, eu diria, um jovem como aquele ter encontrado este local e ter se aproximado sem temer absolutamente nada. As árvores grandes e com troncos grossos guardavam a fortaleza de madeira.
Andou poucos metros adentrando pela casa, o chão rangia a cada passo pesado do homem extremamente cansado. A rodovia longa e deserta que cortava a floresta não havia o perdoado, suas forças estavam esgotadas.
Deixou sua mochila pesada deslizar sobre seu ombro até cair no chão, por um descuido, suas pernas bambearam e o rapaz quase se deixou levar com o objeto. Em uma rápida olhada, analisou atentamente a pequena sala de estar, pelo que havia lido na internet a casa estaria naquele exato estado a quase três décadas. Na mesinha de centro empoeirada havia uma caixa de papelão no mesmo estado, marcado com algum tipo de tinta pastosa, um X vermelho estava na tampa.
Intrigado resolveu analisar mais de perto, vários selos de países diferentes estavam colados por toda a extensão do papelão, alguns tão velhos que perderam sua cor e viraram apenas um papel branco colado.
Sem hesitar, pegou de sua mochila sua maior lanterna e a colocou na mesinha iluminando o sofá velho de couro incrivelmente conservado. Richard se sentou no local e suspirou se concentrando na recompensa que ganharia se encontrasse algo de valor histórico.
Pegou o seu canivete e devagar cortou a fita que lacrava a caixa, agora ela não teria o mesmo valor do que antes.
Ao abri-la se deparou com um monte de serragem empoeirada, o homem enfiou de vagar sua mão dentro, tateando na possibilidade de encontrar algo.
—Porra! —uma ratoeira enferrujada, por sorte havia pegado apenas em seu dedo indicador e pelo corte envelhecido, apenas ganhou um pequeno furo e alguns pingos de sangue.
Retirou a mão e desarmou a ratoeira, para não cometer o mesmo erro novamente, retirou parcialmente a serragem possibilitando a visão do fundo da caixa. No canto superior havia um maço de folhas velhas e desgastadas com uma coloração amarelada. Junto as folhas havia uma velha caneta tinteiro também enferrujada. O homem pegou os objetos com cautela tentando não manchar as folhas com seu sangue e que as mesmas não esfarelassem em sua mão.
Mais ao fundo havia uma pequena caixa de madeira, com uma rosa talhada na tampa, o nome Mellody estava escrito com caligrafia perfeita. O homem a abre medindo suas forças para que a dobradiça não sofresse nenhum tipo de alteração; uma melodia fraca soa, mas logo se encerra. Richard se surpreende com o fato de ainda ter pilha, era um porta jóias, obviamente. Havia uma aliança com uma pequena pérola, logo um sorriso brota em seus lábios, finalmente algo de valor. Ele tenta experimenta-la, porém como esperado, seu dedo era grande de mais para que pudesse usar. Empolgado a coloca novamente na caixinha.
No fundo da caixa um desenho brilhante com tinta vermelha se destacava na escuridão. Três cruzes, duas menores e uma maior em um canto superior, e um ponto de interrogação um pouco abaixo.
Exausto se encosta no sofá relaxando seus membros, suas pálpebras começaram a pesar e sua respiração pesada em ritmo lento o embalava se rendendo ao sono profundo.
—Vamos Melly, mama está chamando para o jantar. —um garotinho ruivo brincava com um avião simulando um pouso emergencial sobre a pequena casa de bonecas de sua irmã. —Olha, olha! Como o que aconteceu com o papai, primeiro veio uma turbulência e BUM!
Observando atentamente a brincadeira do irmão, a garotinha solta sua boneca e começa a chorar indo em direção de sua mãe com uma expressão cansada olhando para o céu escuro com grossas nuvens se formando.
—O que eu já disse para você, Yan? Pare de assustar sua irmã desse jeito! —a mulher puxa de leve a orelha do garoto e o pega pela mão o puxando em direção a casa, mas seu brinquedo cai e ele para bruscamente.
—Mas o meu avião? Foi o vovô que me deu! —o garoto escapa das mãos da mulher e torna a voltar ao lago, com raiva chuta os outros brinquedos os fazendo cair na água e rapidamente afundar.
—Vamos, entre logo. Uma tempestade está por vir. —sua mãe o empurra para dentro da casa e tranca a porta atrás de si.
Afobados, todos se sentam a mesa, a mãe e seus dois filhos. Poucos minutos depois quando todos já haviam se servido, como previsto, uma chuva dura e castigadora cai sobre a velha cabana, as telhas rangiam e o chão parecia tremer com a intensidade dos pingos.
—Mama, estou com medo. —a garotinha pega a mão de sua mão enquanto olhava para cima desejando que aquilo passasse logo.
—Acalme-se querida, vamos ficar bem. É apenas uma chuvinha passageira. —a mulher pega na mão de seu outro filho fortemente. —Vamos Melly, segure a mão de seu irmão e vamos orar para que Deus nos proteja.
Ambos fecham os olhos e se seguram o mais forte o possível na mão de sua mãe, quando a menor se pronuncia dando inicio a oração.
—Pai Nosso que estais no céu, santificado seja o vosso nome, —a garota pausa esperando que Yan e sua mãe a acompanhasse. —vem a nós o vosso reino... Seja feita a vossa vontade assim na terra como no céu.
A garota para ao ouvir uma espécie de ruído ao longe, estranhando ameaça abrir os olhos, mas sua mãe a repreende apertando sua mão fortemente.
—O pão nosso de cada dia nos daí hoje, —Yan continua a oração se esgueirando na cadeira temendo o tal barulho. —p-perdoai-nos as… as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido.
O ruído fino parecia aumentar e se aproximar da casa o chão tremia mais e mais como se algo estivesse vindo exatamente na direção deles.
—Não nos deixei cair em tentação, mas livrai-nos do mal. —o barulho ensurdecedor estava tão perto e tão alto que a mulher não podia ouvir nem mesmo as suas próprias palavras.
—Mama! Mama! —Melody e Yan faziam de tudo para se soltarem e correrem, porém ela não deixava. Estavam com tanto medo que nem mesmo notaram que seus ouvidos sangravam.
—Amém.


Ofegante e totalmente suado o homem deu um pulo do sofá. Seus olhos embaçados como se uma fumaça estivesse no local, como se a neblina do lago tivesse invadido a casa.
Ele tosse algumas vezes, o forte odor de enxofre e carne apodrecida o deixava tonto, totalmente desorientado. Se levantou e deu um pequeno passo a frente batendo a canela na mesma mesinha, porém agora ela estava destruída, surpreendentemente a caixa estava totalmente intacta.
Ela guardava os últimos objetos, ele estava curioso e intrigado. Tudo em sua volta parecia estar destruído, as paredes caídas, o teto arrancado, os destroços e pilhas de madeira estavam espalhados por todo o local, apenas o velho sofá de couro e a caixa.
Um avião de brinquedo e um envelope amarelo. Ele se assusta com o brinquedo velho e desgastado se lembrando de seu pesadelo perturbador, gritos infantis ecoavam em sua mente, ele joga o brinquedo no chão e recua com suas mãos na cabeça, em tentava de que eles parassem.
—Parem! Parem por favor! —o homem se joga no sofá fechando os olhos fortemente apertando seu crânio, os gritos somem.
Ele respira fundo acreditando na possibilidade de que estivesse sob efeito de algum tipo de droga, ou cogumelo alucinótico. Ainda havia o envelope, não iria se dar por vencido.
Duas fitas cassetes numeradas, Dia 1 e Dia 2 e um pequeno gravador.
Acreditando que não teria nada a perder se ajeita no sofá e coloca a fita 1 para tocar.
Apenas pequenos ruídos eram se ouvidos, insatisfeito ele aumenta o volume e fecha os olhos se concentrando nas palavras.
Venha Yan… —algumas risadas infantis e passos eram ouvidos. —Temos… Achar… Mama!
O áudio estava cortado e os ruídos aumentavam cada vez mais sendo impossível entender as palavras ditas.  Desesperadamente o homem tenta decifrar os barulhos se dedicando totalmente para aquilo, em sua mente apenas um ruído ecoava mais e mais intensamente.
Fiiiiiiiiish……
Ele apaga.
[Fim da fita Um]

...
...


Melly, vem… Mama vai ficar feliz.
Ele abriu os olhos tentando foca-los na pessoa em sua frente. Tentou respirar, mas era algo impossível, a cada vez que tentava fazer seu pulmão encher-se de ar, mais dor sentia.
O papa chegou mama!
Seus braços estavam amarrados e havia uma mordaça em sua boca. A casa estava em seu estado original, paredes com um papel florido bonito, um lustre estava no teto.
Oh, que bom, amor. Já estávamos preocupados!
Ele estava sentado a mesa com três pessoas, todas com máscaras de gás. Ele mexia seus olhos desesperadamente com a cena horrível, havia muito sangue na roupa das crianças e seus olhos pareciam estar estourados para fora o observando.
Hoje temos… Tanrã! Sopa com carne e ervilhas!
A mulher mais velha com um avental coloca sob a mesa um prato de porcelana, ela havia servido um pulmão pulsante, parecia vivo, a cada pulsação mais sangue jorrava sujando a mesa mais e mais, porém eles não pareciam se importar.
Parece muito bom, mama!
A garotinha se aproximou da mesa e com uma faca grande cortou um pedaço do órgão espirrando sangue para todos os lados. O homem sentiu uma dor agoniante, insuportável vindo de seu peito, fazia com que ele se debatesse e gritasse de dor, porém a mordaça impediu que os berros ecoassem.
Não se preocupe papai, mama já vai te servir. O senhor deve estar faminto!
Yan despejou toda a 'sopa' no prato do homem e retirou sua mordaça. Ele tentou gritar, porém sua voz não saia, seus olhos pareciam saltar para fora e o sangue invadiu seu cérebro.
Abra a boquinha, amor. Aaaah.
A mulher espetou com o garfo um pedaço grande do órgão e o colocou na boca do homem.
Mama, acho que o papa está gostando. Olha a expressão de felicidade dele.
Os últimos batimentos, uma dor agoniante e cortante no peito foi a última coisa que ele pode sentir. O garoto menor subiu em cima de um banquinho e colocou a mascara de gás no rosto do homem.
Papai finalmente voltou…
...
[Fita dois]
Mama, papa! Olha minha borboleta! Ela voa alto com as asas coloridas! Mellody corria no gramado com um sorriso brilhante nos lábios, nunca havia se sentido tão feliz.
Parabéns filha! Faça sua borboleta voar junto do avião de Yan! —a mulher sorri se deitando em baixo da arvore observando seus adoráveis filhos.
Papai! Aconteceu isso com o avião, não foi? Primeiro ZUM! E depois foi BUM!! —o garoto simula uma explosão com a voz e joga seu brinquedo no chão o fazendo estilhaçar em vários pedaços, um sorriso satisfeito brota em seus pequenos lábios.
O homem agonizava no chão, a máscara impedia sua respiração. Estava tampada com algodão.
Richard! Não trate seu filho des…

~DarkLipstick

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