Quarto
capítulo: O
Caminho da Ilusão
(parte III).
-Ela
é maluca…
-Totalmente.
-E
está atrasada. Afinal, ela não é tão certinha…
-Se
ela pegar você falando assim dela, cabeças vão rolar.
-Qual
é, meu amigo, ela é uma semi-fada e não tem nem poder de
teletransporte? O que é mais importante do que o teste que ela mesma
criou? Nem filhos têm!
-E…?
-Como
assim “e…?”, é obvio que está escondendo alguma coisa. Quer
saber outra coisa? A Iris deve ser bem mais velha do que diz. Vinte e
sete anos não dão para saber tudo o que ela sabe. Ela deve ter uns
cem. Ou será duzentos?
-Anm…
-Você
vai ver só, aquela velhota está enrolada quando…
-Quem
você está chamando de velhota?
Iris
apareceu atrás do tagarela inconformado, e o fez dar um pulo de
susto. Um susto de parar o coração, ainda mais com a cara enfezada
dela fuzilando-o com os olhos.
-Iris,
como vai?
-Nós
não estávamos falando de você… –contestou o outro.
-Acho
que estavam sim, Path. –Iris olhou de esguelha, de modo que o rapaz
começou a gritar…
-Foi
ele, foi ele, eu só concordei com a “maluca”, juro pelos
Deuses...
-Crós…
Venha cá. Agora!
-Não
entendi… Por que a Iris chamou o Crós? –Questionou Sacha.
-Provavelmente
para mandar um atrevido para outro lugar bem desconfortável, via
teletransporte. –Respondeu Hiei.
-Acho
que foi o Kevin. Falaram que ele estava espicaçando ela desde que
chegou o convite. –Sabrina contou, ao que Mitaray concordou: -Ele
sempre tira onda com os outros, algo me diz que vai parar em Dragon.
-Ou
em Moon Scy.
Os
três se entreolharam…
-Moon
Scy.
-Com
certeza.
-Sem
sombra de dúvida.
Os
Slaiers também se entreolharam, um ponto de interrogação
subentendido em cada rosto.
-Bem,
amigos, este é o Caminho da Ilusão. –Mitaray apontou para uma
sombra a alguns metros deles, na sua frente. Uma mata densa, escura e
sombria se alastrava indefinidamente, até se perder de vista. Nada
parecia com o gramado verdejante e o pequeno bosque em que estavam
parados. Ela assustaria qualquer um… Diziam rumores que era viva, e
quem entrasse em seu seio nunca mais sairia. Iris a escolhera
principalmente por esse motivo. A mata causava tanto pavor às
pessoas que seria o teste perfeito de coragem. E quem passasse por
ela e chegasse ao outro lado, estaria dentro da equipe.
É
claro que sua intenção não era que alguém morresse ou sumisse
para sempre, e por esse motivo ela estava ali. Afinal, era uma
semi-fada. Fadas entram em qualquer floresta. Devia ter arranjado um
elfo ajudante também, mas vá lá…
-Aparentemente
a Iris não vai voltar para nós tão cedo, então vou lhes dar uns
pequenos toques. –Começou Mitaray, se dirigindo ao que parecia ser
um acampamento de tropas. Devia haver uns 30 guerreiros de todos os
aspectos possíveis: espadachins, arqueiros, caçadores, um pequeno
grupo de cinco que lembravam um pouco os Vikings, e um ou outro
membro de cavalaria, acompanhados de seus corcéis intimidadores,
isso tudo numa algazarra infernal (que não devia agradar muita a
Iris). –Jamais puxem assunto com os Vikings, eles são
extremamente… Como posso dizer… Antipáticos. Os oficiais de
cavalaria vêm do exército do Imperador. Alguns são bem orgulhosos,
mas não costumam fazer mal sem ter um bom motivo. Têm alguns seres
sobrenaturais aí no meio, inclusive uns dois ou três elfos. Caso
precisem de ajuda, tenham certeza que eles podem ajudar. Eles estão
com o grupo de arqueiros.
-Não
confiem em nada que lhes disserem sobre o Caminho da Ilusão. A
grande maioria das pessoas reunidas aqui nunca esteve lá dentro e,
se esteve, não vai ficar por aí se gabando… –Hiei continuou o
raciocínio de Mitaray. –Se precisarem de armas ou armaduras, elas
estão na tenda maior. Se aprontem rápido, porque a Iris realmente
detesta se atrasar. E isso eu sei por experiência própria… –Ele
olhou vagamente para cima, lembrando-se de algum momento
desagradável, e terminou: -Quanto ao teste em si, fiquem atentos na
maior parte do tempo, não hesitem em correr muito se a situação
estiver perigosa demais para vocês e, definitivamente, se acharem
que não dão conta de verdade, NÃO SE SINTAM ORGULHOSOS O BASTANTE
PARA ACHAR QUE NÃO PRECISAM DA AJUDA DA IRIS. Chamem, gritem,
chorem, mas não esqueçam de pedir a ajuda dela. Pode ser que percam
a oportunidade de ingressar na equipe, mas se ignorarem esse último
aviso, eu garanto que terão uma morte muito dolorosa…
-E
eu gostei de vocês, então detestaria ver as suas vidas
desperdiçadas…
-Seus
corpos despedaçados…
-Até
mesmo algum mísero membro fora do lugar. As pessoas que conseguem
voltar geralmente deixam uma parte do corpo para trás… –Mitaray
contou, entrando na algazarra.
O
pequeno grupo de viajantes parou imediatamente depois dessa
afirmação.
-Ele
disse morte dolorosa? –Perguntou Sacha, se escondendo atrás de
Ken.
-E
que as pessoas não costumam voltar inteiras. –Ajuntou Kira,
maliciosamente, mas logo vendo a gravidade da situação. –Isso não
me parece muito bom.
Cloe
preferiu não dizer nada, mas o seu rosto foi tomado por uma palidez
flagrante. Hiei, que se preparava para seguir o amigo e dar no pé,
percebeu. Não era justo deixá-los preocupados antes da hora.
Cutucou-a de leve e alegou de um jeito que os outros pudessem ouvir:
-A última parte é um pouco de exagero… Menos a questão da Iris.
Não esqueçam. –Mitaray com certeza voltaria para avisar desse
detalhe, ele não precisava ter parado… O que não admitiria para
si mesmo era o pequeno fato de que estava fazendo aquilo
exclusivamente pela garota “nerd”, que caminhava do seu lado, e
acabava de dar um suspiro de alívio.
Logo,
porém, o suspiro virou um chamado: -Gente, a Alyson… Kit deu no
pé.
Ken,
Kira e Sacha estacaram simultaneamente e olharam ao seu redor para
ter certeza. Guerreiros atarefados passavam de um lado para o outro,
e nenhum sinal de Kit.
-Onde
foi parar aquela maluca? –Questionou Ken, já se preparando para ir
procurá-la.
-Tipo
assim, o Crós a puxou depois de voltar “sabe-se lá de onde”
enquanto o Mitaray começava com os “toques” dele. –Contou
Hiei. –Mas não precisam se preocupar, nesta algazarra toda o
melhor lugar que ela poderia arranjar era ao lado dele. Estar com
Crós e quase como estar com os Deuses… A menos que ele esteja
usando teletransporte…
-Têm ideia do que ele quer com ela? –Questionou Cloe.
Hiei
deu de ombros: -Talvez convencê-la a não entrar com vocês.
-Como
sabe que ela quer participar do teste junto com a gente? –Kira
disparou.
-Dedução
lógica… Era o que eu faria se estivesse no lugar dela. –Ele
respondeu, e se afastou, enquanto dizia: -Se não nos encontrarmos
antes de entrar no Caminho da Ilusão… Boa sorte!
-Para
vocês também. –Cloe desejou.
Kira
se dirigiu a ela: -Eles disseram que iam fazer o teste também?
-Dedução
lógica. Mitaray deixou isso bem claro quando disse “Não, bobo,
ela vai CONOSCO para montar acampamento e fazer pizza”.
-Que
memória, hein? –Alegou Sacha. –Eu nem tinha reparado nisso.
-Muito
menos eu. –Disse Ken.
-Vamos
logo, pessoal, ouviram o que o Hiei avisou: a Iris não gosta de
atrasos. A Kit está bem, maninho, temos que começar a nos preocupar
com nós mesmos antes que seja tarde demais para isso. –Lembrou
Kira, dando um tapinha na cabeça do irmão.
-Tá
legal, tá legal, vamos. Qual das tendas ele disse que era a das
armas e armaduras, mesmo?
-A
maior.
-Você
daria uma ótima secretária, Cloe. –Ele admitiu.
-Quem
sabe eu pense nisso se conseguir sair dessa confusão toda.
-Sabem
outra que resolveu dar no pé? Aquela fadinha… –Cortou Sacha,
agora reparando na falta da voz baixa e fina que os seguiu o caminho
inteiro, do portal até ali.
-Sabrina?
Deve ter ido com o Mitaray. Ela é daqui. Sabe se virar. –Cloe
deduziu, e tomando a dianteira, chamou os outros: -Vamos. Acho que a
tenda das armas e armaduras é aquela ali…
-Ai…
O que você quer, não podia ser menos paranoico, os outros podem
estar preocupados comigo. –Reclamou Kit, enquanto era sentada a
força numa cadeira de madeira imensamente desconfortável. Perto
dela havia um Viking “desgarrado”, que parara de afiar o grande
machado e se concentrara nela. Aliás, no decote provocante que ela
usava, e no que estava por baixo…
Crós
percebeu o olhar e rosnou em advertência: -Cai fora!
O
homem se levantou. Kit temia que ele fosse revidar. O machado imenso
em sua mão poderia cortá-la em dois sem muito esforço. O tamanho
dele era ameaçador, devia ter quase o dobro da massa de Crós, e era
puro músculo. Ele fez uma carranca feia, encarando o feiticeiro por
alguns segundos, e se foi. Ela não conseguiu refrear um suspiro de
alívio.
-Você
é louco. Puramente louco.
-Esqueceu
que sou um feiticeiro? Acabo com três deles com um golpe só… São
trogloditas, que não têm estratégia alguma. Primeira lição: -Se
quer vencer um feiticeiro, precisa ter uma estratégia. Ou então ser
um feiticeiro tão bom quanto seu adversário, ou bem melhor que ele.
-Crós…
-…?
-Muito
obrigada. Por tudo.
Ele
simplesmente sorriu e passou a mão na cabeça dela. –Você é uma
boa menina. Sinto por ter que estar nessa situação.
-Mas
não é o meu destino…
-Eu
sei, eu sei. Além disso, também gostei de ter conhecido você,
sabe? Mas seu papel nessa história não será fácil, e temo que
você correrá um risco muito grande de perder muitas coisas. De
descobrir coisas terríveis que a farão questionar sobre o que você
realmente é.
-Você
sabe muito mais dessa história do que aparenta, não é?
-Não
tem a menor ideia do que eu sei sobre isso… Do que sei sobre você.
Mas tudo tem uma hora para se revelar. Você precisa estar preparada
para receber certas… notícias. E temo que ainda não é essa hora.
-Vai
me contar quando chegar a hora, não vai?
-Farei
o possível para que saiba da minha boca.
-Que
bom… Uma pergunta.
-Diga.
-Se
os Vikings são tão… Trogloditas, como você diz, porque eles
estão aqui?
-Vieram
do Mundo da Imaginação atrás do líder. Ele é que foi chamado.
Ele jurou nos ajudar se algo corresse errado. –Ao ver a cara de
interrogação de Kit, ele explicou: -Juramento vindo de batalhas
antigas… Ele pode não ser muito melhor que seus soldados, mas leva
as promessas muito a sério. Ainda estou me perguntando se isso é
bom ou ruim. Enfim, não pudemos ignorá-lo, e muito menos os quatro
subordinados que vieram junto. Mas pode ficar tranquila. Vikings são
excelentes marinheiros e forças destrutivas perigosas, mas não têm
a menor capacidade de atravessar nem os primeiros 20 metros do
Caminho da Ilusão. –E, abaixando a voz, garantiu: -Eu me
certifiquei disso, antes de sair para buscar você.
-Que
ótimo!
-Agora,
voltando à questão do teste…
-Droga,
pensei que você ia esquecer.
-De
certas coisas, não se esquece.
-Não
adianta, Crós. Não vou deixar que entrem sozinhos…
-Tá,
tá que seja. Mas você está pensando apenas com o coração. Isso
pode ser bom e tudo mais, mas você também precisa usar essa coisa
dentro da sua cabeça chamada CÉREBRO. –Ele retrucou, dando um
cutucão na testa dela. -Por acaso acha que eles não vão dar conta?
-Não…
mas… é que…
-Quer
mostrar sua lealdade? Se retratar? Acha de verdade que eles não
conseguirão?
-Você
repetiu a última pergunta… Não acho que…
-Então
responda.
-Não
sei ao certo. Por que tantas perguntas?
-Estou
tentando fazer sua mente trabalhar. Como acha que se sentiriam se
souberem que você não acredita neles?
-Eu
acredito.
-Então
prove! Deixe-os ir. É a missão deles. Eles precisam passar por
isso. Pense por esse ângulo: mesmo que se torne uma das guerreiras
mais poderosas dos três mundos, acha mesmo que vai poder estar
sempre com eles?
-Provavelmente
não…
-É
isso que não consegue ver. Eles precisam estar preparados. Precisam
enfrentar certas batalhas por conta própria. E, se isso não for
motivo suficiente, lhe apresento o inicial.
-Acreditar?
-Ter
fé. Acreditar, por si só, nunca basta. –e chegando mais perto e
segurando as mãos dela, continuou. –Eles necessitam disso… Desse
encorajamento. Precisam saber que confia neles.
-E
se não funcionar, Crós? E se eles se machucarem, ou pior…
O
feiticeiro arqueou levemente as sobrancelhas e pareceu pensar por
alguns instantes. Kit realmente achou que ele ia ter um ataque
nervoso a qualquer momento. Mas ele apenas abriu um sorriso,
mostrando dentes brancos, levemente afiados e dizendo com um tom
brincalhão: -Culpe o anjo da guarda…
-Ta aí
uma coisa que não se vê todo dia…
-Você
está indo bem… Mas agradeço se apontar esta coisa pra outro lado.
–Argumentou Ken, saindo da reta de uma flecha de ponta extremamente
aguçada, apoiada em um arco de madeira reluzente e desconhecida,
seguro pelas mãos de…
-Sacha,
dá pra virar esse arco para outro canto? Se for pra eu morrer hoje,
que seja pelo menos uma morte honrada. -Retrucou Kira, girando uma
espada na mão. Ela lembrava um pouco uma katana, uma espada samurai,
mas era um pouco mais larga, e tinha um punho ornamentado por pedras
negras e vermelhas. Era uma herança de família, assim como a espada
que Ken usava (a dele era uma versão um pouco mais bruta), e era sua
arma favorita.
-Se
continuar brincando com essa espada, vai acabar se machucando feio.
–O rapaz avisou, vendo a arma rodar rapidamente pelos dedos da
irmã, e temendo que ela escapasse e fosse parar no pescoço de
alguém.
-Relaxa,
irmãozinho. Está tudo sob controle…
A
espada cravou-se a alguns centímetros da cabeça de um elfo, quase a
decepando.
-Desculpe,
Al.
O
elfo, que tinha longos cabelos ruivos e olhos de uma cor clara e
indefinida, puxou a espada e caminhou até Kira, devolvendo-a e
contestando: -Percebe-se que você não precisa de treino…
Ela
respondeu com um sorriso largo. –Viu, nem arranquei sua cabeça…
-Pois
é. –E, com delicadeza, tirou o arco das mãos de Sacha. –Prefiro
que vocês mirem nos inimigos, não em mim.
-É
pedir demais. –Kensuke ajeitou a bainha da espada em suas costas,
passando por cima de sua meia armadura, que não fizera questão de
tirar, e embainhando em seguida a própria espada, de punho prateado
e lâmina terrivelmente afiada. –Mas tente pedir de novo quando
alguém aparecer sem cabeça.
Cloe,
que agora vestia uma armadura de aço negro e estilizada (e no
momento lembrava uma amazona das lendas gregas), fez o chicote escuro
que estava em sua mão oscilar antes de repetir: -Ta aí, uma coisa que
não se vê todos os dias. Quem em sã consciência daria uma arma
para Sacha? Não que você seja louco, Alberich, mas…
-Eu
sei. Só sei. -O elfo abaixou as orelhas, num sinal de conformismo.
-Não
sou tão ruim assim. –Protestou a ruiva, lançando um olhar pedinte
a Alberich.
Ele
lhe respondeu com ar de descrença: -Não diga…
-Ei,
acho que o Crós resolveu largar a Kit por alguns instantes…
Cloe
apontou para frente. Um pequeno corpo se esquivava dos guerreiros,
abrindo caminho por entre a confusão.
-Até
que enfim… Pensei que você tinha sido raptada. –Argumentou
Sacha.
Kit
revirou os olhos, juntando-se a eles. –Crós queria me dar uns
toques. –E curvando os ombros, resignada: -Não vou entrar com
vocês.
-Não!?
-Não.
-Ele
torturou você ou o quê? –Ken chegou mais perto e colocou a mão
sobre a testa dela.
O
olhar enviesado que recebeu de baixo fez com que se afastasse
novamente.
-A
resposta é não. –retrucou a jovem, de cara feia. Suavizando um
pouco o rosto, continuou: -Decisão própria. Só agora percebi.
-O
quê?
-Sou
capaz de dar um voto de confiança. –Ela sorriu.
-Não
deveria. A situação está um tanto quanto critica… –O elfo riu
brevemente.
-E
você é?
-Alberich.
Alberich de Helm. Elfo, rastreador, arqueiro e bússola ambulante.
Helm.
Isso soava muito familiar.
-Kit.
Kit Black.
-Ah,
eu sei, acredite… Foi muito bom conhecê-los, pessoal, mas temos um
teste a realizar. Nesse exato instante.
Ele
nem terminou de dizer isso quando um barulho de gongo passou pelo
acampamento improvisado, fazendo com que entrasse num silêncio
súbito e repentino. Os Slaiers se viraram a tempo de presenciar um
agradecimento cortês de Iris a Mitaray, que mantinha o grande
porrete com que golpeara o gongo em mãos e agora suspirava um
“disponha”.
-Amigos
e amigas presentes aqui nesse momento. –Iris, começou, elevando a
voz fina para poder ser ouvida. –Todos sabem o porquê de estarem
aqui hoje. Agradeço desde já a ajuda que muitos de vocês deram a
Equipe Black nesse instante difícil no qual nos encontramos. Porém,
as coisas estão para piorar ainda mais, e creio que nosso
contingente não é grande o suficiente para lidar com elas. Devo
afirmar que, agora, nossa querida Kit está entre nós…
–A semi-fada fez um gesto em direção a garota, que se encolheu,
extremamente sem graça. 30 cabeças convergiam pra ela
instantaneamente. – Vocês
sabem o quanto ela é importante, mas quero lembrar que é apenas uma
adolescente. Eu sei que isso tudo pode ser muito novo pra ela.
Portanto, não podemos sobrecarregá-la com uma missão que é nossa.
“Caros
amigos, nós nos reunimos hoje para, não só aumentar a Equipe
Black, mas dar as boas vindas pra essa fantástica garota que, mesmo
sabendo muito pouco, se propôs a vir aqui e nos ajudar”.
“Agora,
ao nosso teste”.
“Esse,
como todos vocês sabem muito bem, é o ‘Caminho da Ilusão’.
Nele, nada é o que parece. As regras são simples: quem chegar até
o outro lado, vence e se junta a nós. Sei que muitos de vocês me
julgaram mal por isso, talvez disseram que era injustiça, mas eu
lhes garanto que é necessário. Eu própria buscarei
quem se perder. Não se preocupem, se depender de mim, ninguém
morrerá ou se perderá hoje”.
O
que ela não sabia era que aquilo já não estava mais em suas mãos.
Iris
puxou o ar para os pulmões visando continuar quando sentiu uma
sensação estranha. Mau pressentimento. Um frio repentino lhe desceu
pela espinha. Respirou profundamente. Não era nada. Não devia ser.
-A
preferência é que entrem pelo menos quatro pessoas juntas. É mais
fácil pra resolver certos… Problemas. Caso precisem de ajuda,
gritem o meu nome. Crós fez um feitiço de localização bem eficaz…
Os que forem ajudados por mim, estão fora da competição. –E,
antes que chegasse aos seus ouvidos os protestos, ela replicou:
-Entrem quando o gongo bater. Não tem prazo para chegada, mas eu
advirto que, passar um dia inteiro na floresta, pode não ser uma
experiência muito agradável.
Mais
uma vez uma onda de vozes iradas se levantou da pequena multidão.
Iris lançou um olhar significativo a Mitaray.
O
rapaz ergueu o porrete, mirou bem e golpeou o gongo com toda a força
que conseguiu reunir. E, mais uma vez, fez-se silêncio.
-Boa
sorte, pessoal.
Os
participantes demoraram um pouco pra chegar a uma conclusão, e
quando chegaram foi quase simultaneamente. Em instantes, o
acampamento estava quase vazio. Os únicos que permaneceram foram os
slaiers, Mitaray, Hiei, os elfos (que se recusavam em bancar os
estabanados), Iris e Crós.
Kit
inclinou levemente a cabeça, fitando os amigos: -Vocês têm
certeza?
-Temos.
-Prometam
que vão tomar cuidado.
-Claro
que vamos. –Argumentou Cloe. –Temos coisas a fazer. E deixar você
aqui sozinha pra virar isca de uma imortal assassina não está nos
planos.
-É,
se vamos botar a água pra ferver, colocamos ela toda. –Kira girou
sua espada e a embainhou. –Se você é tão importante pro meu
irmão como ele diz ser, tem todo o meu apoio.
-Apoio
triplicado. –Suspirou Sacha. –Por mais que eu vá me arrepender
disso depois.
Kit
Black sorriu de novo. Fidelidade. E diziam que não se encontrava
mais isso hoje em dia.
Hiei
e Mitaray desceram para se juntar a eles. O segundo puxou Kit pelo
braço delicadamente e perguntou: -Você vem?
-Não.
Não mesmo.
Mitaray
sorriu. –Boa garota. –E, passando a mão nos cabelos dela
argumentou: -Pode deixar. Vou cuidar bem deles por você.
-Sério?
Ele
revirou os olhos: -Mas é claro. Palavra de caçador.
-Vocês
dois são caçadores?
-Não
exatamente… Mas fica melhor pra você entender. –Dirigiu-se aos
outros para avisar: -Vamos, o tempo está correndo. Devemos sair de
lá antes do cair da noite.
-Por
quê? –Questionou Kira.
-Digamos
que tem coisas que aparecem por aqui à noite que não são
recomendáveis de se esbarrar. Acham que dão conta pelo menos da
primeira parte do Caminho sozinhos?
Ken,
Cloe, Kira e Sacha trocaram olhares.
-Talvez…
-Sim.
-Moleza.
-Não
sei, não…
Crós
ignorou o comentário de Sacha. –Vão logo, quanto mais tempo
demorarem a entrar, pior vai ser para sair.
-Vocês
quatro vão na frente. Nós protegemos a retaguarda. Portanto, tentem
sobreviver pelo menos uma hora. Depois disso, os gritos das pessoas
mais despreparadas já vão ter parado, e talvez possamos encontrar
vocês novamente. –Mitaray disse enquanto apontava para frente.
-Belo
plano. –Resmungou Kira.
-Gritos?
–Sacha repetiu, engolindo em seco. Olhou em volta. Os elfos já
haviam sumido, ficando apenas Alberich. Provavelmente entraria com
Mitaray e Hiei. Fez as contas. Um, dois, três… Peraí, Iris não
tinha recomendado quatro integrantes?
Ela
não sabia, mas cada um dos três valia como dois.
Manteve-se
perto de Ken enquanto ele entrava na floresta, junto com as outras, e
lançava um último olhar para Kit: -Eu vou voltar. Prometo.
-Eu
acredito… em vocês. –Murmurou para si mesma, Kit. E então eles
sumiram por entre as primeiras árvores.
-Acho
que agora somos nós, certo? –Alberich suspirou, enquanto pendurava
o arco em seu ombro.
-Anime-se,
colega de orelhas pontudas, isso será divertido. –Foi a vez de
Hiei argumentar.
Mitaray
se limitou a espreguiçar-se. Kit reparou que agora ele levava nas
costas algo como…
-Uma
foice?
O
rapaz olhou para ela. –Sim?
-Você
carrega… Uma foice.
Ele
lhe lançou um sorriso sutil. –Ela é muito útil. E tem uma
história um tanto… Complicada.
Kit
levou seu olhar até Hiei. Podia não ter uma foice, mas um báculo
esquisito girava em suas mãos. E ela podia jurar que gravado no
material negro do qual era feito, havia uma caveira fitando-a com
suas órbitas vazias. De cada lado de seu crânio, saíam asas
angelicais da mesma cor, fechando-se em torno da face descarnada.
Aquilo
fizera gelar seus ossos. Sentiu a mão quente de Mitaray tocando seu
ombro. –Relaxe. Ele gosta de chamar mais a atenção. Não é o que
parece.
Ela
encontrou os olhos cinza do rapaz e chegou à conclusão que,
realmente, estava sendo ridícula. Ela tinha certeza de que, jamais,
aqueles dois iriam machucá-la. Ao ver eles e Alberich lhe lançarem
um tchau e entrarem no Caminho da Ilusão, tinha certeza que teria
mais três seres naquela floresta para os quais rezaria.
Contudo,
não havia abandonado aquela sensação inicial. Foice, uma caveira…
Seria apenas ela que associara aquilo com sua amiga, Dona Morte?
~Kit Black
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