5 de jun. de 2015

Fosfeno.

His lips are like edge of the galaxy.



A jovem com semblante cansado caminhou até a janela de seu quarto bagunçado e mal iluminado, mirou seus olhos ao céu em um azul-cobalto com estrelas e constelações brilhantes. Estava maravilhada com tal paisagem que o destino a despusera.
Um sorriso fraco surgiu de seus lábios ressecados e em seguida se jogou em sua cama desarrumada, tal privilégio encheu seu peito de uma alegria tão intensa que lágrimas já não bastavam para expressar tal sentimento.
Ela fechou os olhos e ficou ali por alguns minutos. Completa escuridão e um vazio perturbador, ela tinha medo do escuro, fechar os olhos era algo torturante para a mesma, mas era isso mesmo que ela desejava, era o seu castigo por ter o deixado ir. Logo depois levou suas mãos até as laterais de seu rosto, com os dois polegares esfregou suas têmporas com um pouco de força até poder enxergar luzes, estrelas, fogos de artifício meio destorcidos, um universo inteiro ali, até que a escuridão virasse céu.
Reconfortante ela diria, as vezes estimulamos nosso corpo na procura incessante de sensações que acabam se tornando essenciais para o nosso dia a dia. Vícios corporais que não seriam satisfeitos sem uma vontade maior, algo ou alguém que deseja muito.
Insatisfação, frustração, desespero, angustia, culpa. Culpa. Muitos sentimentos a rodeiam de um modo tão intenso que faziam seu peito doer, doer a ponto de seu corpo repugnar sua alma, como se quisesse expulsá-la de qualquer maneira.
Mas ela não podia parar, simplesmente não queria aceitar o fato de ter perdido desonrosamente. Ter deixá-lo ir sem nenhum esforço a mais. As palavras a corroíam gradativamente, como ferrugem corroendo cobre.
Há dias ela não comia, não bebia, não saia de seu quarto, não fala com ninguém. Estava magra, poderia se ver seus ossos colados junto a pele seca, desidratada e pálida.
Rolou na cama até que seu corpo quente se chocasse com o chão frio, frio como o coração dela. Acreditando que seu próprio destino já havia sido traçado, estava designada a sofrer até o fim dos tempos, se arrastou pelo chão com um ser invertebrado até sua cadeira.
Posicionou-se em seu santuário sagrado, a escrivaninha de madeira maciça, uma relíquia da família, nas pratilheiras haviam inúmeros livros, ele havia lhe dado e lido com ela cada um deles. Sua história favorita era A Garota dos Olhos de Ouro, já havia lido e relido muitas vezes e nunca se cansara, ela notou que as horas não importavam mais, suas pálpebras cansadas pesavam, suas olheiras fundas por noites mal dormidas embalavam duas orbes pretas desfocadas que corriam por cada linha, cada letra. Seus lábios ressecados murmuravam a fábula graciosamente, a fábula qual seu amado a dedicara.
Ele havia lido que o céu, e muito além do céu, tudo era infinito, tudo era possível. Ele gostaria de leva-la lá. Para que o amor de ambos fosse infinito.
Ela acreditava que um dia ambos poderiam ser infinitos, infinito como o brilho do sol, ele continuaria a aquecer seu coração até o fim dos tempos.
Mas infelizmente não era real, não era possível.
Sua família queria que a jovem se casasse com o filho de um agricultor famoso, ainda pensavam em um casamento arranjado. Seu pai estava na beira da morte e era isso que o mesmo desejava, ela não sabia se ouvia o seu coração ou os sentimentos do seu pai.
Eles a pressionavam para que se casasse logo, teria que abandonar seu amor de infância que foi cuidadosamente lapidado por anos. Não havia mais tempo, era aquele momento ou seria odiada por sua família.
Ele foi informado que ela tinha se casado com outro por boca de terceiros, ela não pode nem se explicar, não pode nem se despedir. Sua mãe achava aquilo bom, mesmo sabendo do amor incondicional que ambos sentiam.
De tempos em tempos ela começou a duvidar do amor dele. Com certeza ele não a amava, se amasse teria a procurado para saber a verdade, se amasse teria ficado ao lado dela, teria lutado por ela. Se amasse não teria ignorado suas cartas, seus pedidos de desculpas falhos. Se amasse…
O filho do agricultor adoeceu e ela estava novamente sozinha, morrendo de desgosto. Havia se casado com um homem que não a desejava, deixou seu amor partir. Sua família continuava a esnoba-la e agora estava sozinha em seu quarto escuro, lendo o seu livro.
Vários meses atrás eles estavam na sacada contando as estrelas, ela embalada nos batimentos dele, seus braços eram o refúgio. Ela conhecia o amor.
“—Você gosta de olhar para o céu, não é? —ele se vira em direção dela.”
“—Sim, dizem que cada átomo do seu corpo, um dia, foi uma estrela. —ela suspira encarando o céu novamente.”
“—Deixe me ser a sua galáxia, o seu universo. —ele se posicionou em cima da garota, encarando seus olhos escuros, agora com um brilho intenso. —Feche os olhos… —e assim ela fez, ele colocou os seus dois polegares em cima de suas pálpebras e massageou com um pouco de força.”
Agora só restavam as memórias falhas de um amor incompleto, ela se culpava, de fato não estava certa e isso pesava de mais.
Ela não teve notícias mais dele, o silêncio a incomodava tanto quanto o escuro. Agora só haviam suas memórias e o paradeiro do seu amado.
“—Fosfeno. —ela soltou a palavra sorrindo. “


~DarkLipstick

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