31 de jul. de 2015

Kit Black: Viajantes de Mundos

Introdução:

O mundo não é apenas aquilo que podemos ver, ou que sentimos... além do que chamamos de Terra, há milhares de planetas, estrelas e constelações... e, além de tudo, milhões de possibilidades, e de outros mundos... e isso levando em consideração que existe apenas uma linha tênue e um universo... no entanto, existem muito mais que isso... Existem igualmente incontáveis dimensões, algumas tão ligadas a nossa que se algo ocorrer lá, terá uma reação aqui.
Essas linhas que estão diante de seus olhos se focam em três coisas: Um desses universos e a relação com o nosso; Uma profecia tecida especialmente pelas Deusas do Destino; E uma garota... sim, uma pequena garota, um peixe fora do aquário. Uma garota que haveria de morrer...
No entanto, a quem diga que a morte é apenas o início... e a garota veria que a flecha que tirou sua vida fora a porta para inúmeros acontecimentos, os quais mudariam sua vida para sempre. Ela irá conhecer pessoas incríveis, inimigos terríveis, lugares encantados e desvendar mistérios que nem sabia que existiam. E lutará para que a morte não a encontre novamente... mas descobrirá que não é tão fácil quanto parece... que ela está em cada esquina, pronta para pegá-la, embora isso não a agrade...
Não pisque os olhos, apure os ouvidos... irei leva-lo para fazer uma viagem, um tour pelas dimensões, pelo destino e por mentes perturbadas. O expresso para o desconhecido acaba de zarpar.  

Primeiro capítulo: Uma mente bem diferente.

Alyson esfregou os olhos e virou-se para a janela. A noite começava a cair, e a jovem sentia um cansaço extremo e um sono arrebatador tomarem conta do seu corpo. Empurrou o caderno com a lição de álgebra para o lado e puxou para mais perto um livro de capa preta, com o titulo de Kit Black escrito em azul. Na escrivaninha em que ela estava debruçada dava pra notar uma desorganização total, e um porta-retrato em forma de lua crescente, onde se viam três garotas aparentemente na faixa dos 12 anos, abraçadas.
O quarto, de pintura lilás e aparência harmoniosa, parecia sumir da vista de Alyson cada vez mais. Ela abriu o livro, deparando-se com aquela bendita primeira página, sempre em branco, sempre lembrando a sua incompetência. Porque aquele livro era obra dela (seria, se ela tivesse escrito alguma coisa) e mostrava que a vida de uma garota de 17 anos pode ser chata, e sem nada de interessante que possa poder escrever num livro.
-Quem sabe um dia possa ter? -Questionou a jovem para si mesma. O toque do telefone a despertou para a realidade. De mau humor tirou o aparelho do gancho, e atendeu:
-Funerária “Vai Com Deus”, a sua tristeza é a nossa alegria, em que posso ajudar?
-Parando com isso, que já está me deixando assustado. -Respondeu uma voz masculina e suave, que fez Alyson dar um pulo e quase cair da cadeira.
-É você?          
-Céus, será possível que já esqueceu a voz de um amigo?
-Claro que não, Ken. Mas nessas horas eu não esperava um telefonema, quanto mais do meu vizinho, que poderia muito bem vir aqui em casa, se o assunto fosse urgente. -Alegou Alyson, abrindo a janela e procurando com o olhar   na casa vizinha...
-Pode me ver?          
-Ah... Posso! -Respondeu ela acenando com a mão para a janela da casa em frente, onde um rapaz de 20 anos, loiro de olhos verdes estava debruçado, com um telefone sem fio no ouvido. -Então, o que você quer falar comigo?
-Acho que você ia gostar de saber que mandaram uma carta pra você ontem, e o Edgar pediu para eu te entregar. Ele está meio ocupado no bar, sabe... Suponho que, como veio de Bevelly Hills, a carta pode ser da...
-Cloe! -Exclamou a garota, fazendo Kem dar um pulo e sair da janela.
-Desse jeito eu vou ficar surdo!
-Ah, me desculpa, foi sem querer. É que...
-Eu sei, eu sei, você não vê ela e a Sacha desde os 12 anos. –Ele comentou, deixando-se cair na cama e pensando: “Será que ela iria sentir minha falta se eu fosse embora também?”.
-Sabe que eu sentiria a mesma coisa por você, não é?
-Sentiria?           
Foi sorte Ken não estar na janela essa hora, senão teria visto Alyson enrubescer drasticamente. Ela recuperou o fôlego e respondeu se segurando para não gaguejar: -É, sentiria.
-Bom saber. Preciso ir. Vem pegar a carta amanhã?
-Vou. Boa noite.
-Pra você também. E bons sonhos.
Alyson não pode segurar um risinho. “Se eu sonhar com você pra mim já está ótimo”. -Vejo você amanhã.
-Tchau.
Ken desligou, imaginando consigo mesmo se não seria perigoso (pra não falar de irresponsável), tentar se aproximar de Alyson quando um retardado mental e maníaco estava no pé dele. - É, assim não dá. Mas se eu esperar muito posso perder a oportunidade. - Sem mais delonga, deitou na cama e foi dormir.
Alyson demorou mais tempo para cair no sono. Depois de desligar o telefone, teve a impressão de ter visto, de relance, uma dama de branco, clara, loira e de olhos brancos, observando-a da janela. Mas só por alguns instantes. Bem que Alyson pensou ser um fantasma no começo (Não tinha medo de espíritos, mais se algum chegasse perto ela se mandaria). Logo descartou a hipótese, pois a aparição não deu mais sinal de vida, e, como ela estava caindo de sono há um minuto poderia ter sido uma ilusão de ótica, um efeito do cansaço. Mas por um longo tempo achou sentir uma presença estranha naquela noite, e por muitas semanas essa sensação não mudou em nada.
            
Alyson é uma adolescente diferente, do modo de pensar ao modo de encarar seus problemas (muitos por sinal). Tem uma mente aberta, sendo muito teimosa, mas também muito ciente dos seus erros. Conta com uma recuperação física assombrosamente rápida, nunca tendo quebrado um osso ou ficado no hospital, internada. Apesar de sempre parecer alegre, não se sente feliz em Petrópolis, onde mora com a mãe, Leah Valoem. Sua mãe dizia que nascera em outro lugar, e não no Brasil, mas toda vez que a filha perguntava Leah dava um perdido, e nunca respondia. Outra incógnita era o pai. Nunca o vira, e sua mãe recusava-se a mencionar qualquer coisa sobre ele. A verdade é que sentia uma enorme falta de uma presença paterna, e o silêncio de Leah só piorava tudo.
Alyson tinha duas amigas, Cloe e Sacha, as quais ela não via há cinco anos. Cloe tinha se mudado da sua casa, que ficava no centro de Petrópolis, para morar com o pai, depois que sua mãe morreu num acidente de automóvel. A casa de seu pai ficava em Bevelly Hills, o que causou a primeira separação marcante na vida de Alyson. A segunda ocorreu uma semana depois. Sacha, que morava na mesma rua que Cloe, teve que se mudar para Tókio, pois a irmã mais velha, Naoco, tinha recebido uma proposta de emprego irrecusável. A irmã mais nova era responsabilidade dela, já que seus pais morreram numa queda de avião.
Resumindo, ela estava só. Mas no dia da separação chegou uma ajuda inesperada. Pois nesse momento chegava na cidade (para ser mais precisa, na casa ao lado da garota), um jovem chamado Kensuke Himura.
Alyson estava nos degraus em frente da porta da sua casa, encostada no degrau de cima, abraçando os joelhos e olhando melancolicamente para o horizonte. Nem sabia porque estava ali. Nesse meio tempo o rapaz se debruçou no portãozinho de entrada, e ficou olhando, tomado de compaixão por aquela pessoa tão triste. Apesar de estar bem na frente dela, Alyson não o viu. Estava concentrada demais em seus pensamentos para percebê-lo.
-Eu detesto a minha vida. -Resmungou ela, num acesso de raiva, o que estava ficando muito presente na sua personalidade recentemente.
-Que lástima. Pensei que era diferente das outras pessoas que eu conheci, mas acho que me enganei. - Alegou o rapaz, com uma voz suave, e fazendo com que Alyson desse um pulo de susto.
-Quem é você?
-Para começar o seu novo vizinho.
-Que bom. –Ela retrucou, com o mesmo tom de voz de quem diz “mais essa!”. -Se não se importa, vizinho, estou muito ocupada não fazendo nada.
-Vichi, que mau humor. É assim que você trata todas as pessoas?
-É assim que eu trato todos os que me enchem.
-Ai, isso feriu meus sentimentos. -Debochou Ken. Seria difícil para ela o mandar embora, já que o que ele tinha de bonito (o que não é pouca coisa), ele tinha de teimoso. E não lhe agradava nada a idéia de ser rechaçado por uma pirralha três anos mais nova do que ele.     
-Se eu fosse você ia embora antes que eu resolva ferir algo de verdade, e não vão ser só os seus sentimentos.
-Calma, eu só estava brincando. Não vamos começar com o pé esquerdo, vamos?
Ela nada respondeu, mas o olhou com uma cara de: “vamos, se continuar tirando uma da minha cara...”.
-Sou Kensuke Himura. -Se apresentou ele, estendendo a mão.
-Alyson Valoem. -Disse ela, apertando a mão dele. -Mas vê se não fica achando que já sou sua amiga. Isso ainda vai levar tempo.
-Pode ficar fria, não vou achar.

Até que nem levou tanto tempo assim. Umas semanas depois, os dois tinham se tornado quase inseparáveis. E por cinco anos ficou desse jeito, ou melhor, até agora.


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