Introdução:
O mundo não é apenas aquilo que
podemos ver, ou que sentimos... além do que chamamos de Terra, há milhares de
planetas, estrelas e constelações... e, além de tudo, milhões de
possibilidades, e de outros mundos... e isso levando em consideração que existe
apenas uma linha tênue e um universo... no entanto, existem muito mais que
isso... Existem igualmente incontáveis dimensões, algumas tão ligadas a nossa
que se algo ocorrer lá, terá uma reação aqui.
Essas linhas que estão diante de seus
olhos se focam em três coisas: Um desses universos e a relação com o nosso; Uma
profecia tecida especialmente pelas Deusas do Destino; E uma garota... sim, uma
pequena garota, um peixe fora do aquário. Uma garota que haveria de morrer...
No entanto, a quem diga que a morte é
apenas o início... e a garota veria que a flecha que tirou sua vida fora a
porta para inúmeros acontecimentos, os quais mudariam sua vida para sempre. Ela
irá conhecer pessoas incríveis, inimigos terríveis, lugares encantados e
desvendar mistérios que nem sabia que existiam. E lutará para que a morte não a
encontre novamente... mas descobrirá que não é tão fácil quanto parece... que
ela está em cada esquina, pronta para pegá-la, embora isso não a agrade...
Não pisque os olhos, apure os
ouvidos... irei leva-lo para fazer uma viagem, um tour pelas dimensões, pelo
destino e por mentes perturbadas. O expresso para o desconhecido acaba de
zarpar.
Primeiro capítulo: Uma mente bem
diferente.
Alyson esfregou os olhos e virou-se
para a janela. A noite começava a cair, e a jovem sentia um cansaço extremo e
um sono arrebatador tomarem conta do seu corpo. Empurrou o caderno com a lição
de álgebra para o lado e puxou para mais perto um livro de capa preta, com o
titulo de Kit Black escrito em azul. Na escrivaninha em que ela estava
debruçada dava pra notar uma desorganização total, e um porta-retrato em forma
de lua crescente, onde se viam três garotas aparentemente na faixa dos 12 anos,
abraçadas.
O quarto, de pintura lilás e
aparência harmoniosa, parecia sumir da vista de Alyson cada vez mais. Ela abriu
o livro, deparando-se com aquela bendita primeira página, sempre em branco,
sempre lembrando a sua incompetência. Porque aquele livro era obra dela (seria,
se ela tivesse escrito alguma coisa) e mostrava que a vida de uma garota de 17
anos pode ser chata, e sem nada de interessante que possa poder escrever num
livro.
-Quem sabe um dia possa ter?
-Questionou a jovem para si mesma. O toque do telefone a despertou para a
realidade. De mau humor tirou o aparelho do gancho, e atendeu:
-Funerária “Vai Com Deus”, a sua
tristeza é a nossa alegria, em que posso ajudar?
-Parando com isso, que já está me deixando
assustado. -Respondeu uma voz masculina e suave, que fez Alyson dar um pulo e
quase cair da cadeira.
-É você?
-Céus, será possível que já esqueceu
a voz de um amigo?
-Claro que não, Ken. Mas nessas horas
eu não esperava um telefonema, quanto mais do meu vizinho, que poderia muito
bem vir aqui em casa, se o assunto fosse urgente. -Alegou Alyson, abrindo a
janela e procurando com o olhar na casa
vizinha...
-Pode me ver?
-Ah... Posso! -Respondeu ela acenando
com a mão para a janela da casa em frente, onde um rapaz de 20 anos, loiro de
olhos verdes estava debruçado, com um telefone sem fio no ouvido. -Então, o que
você quer falar comigo?
-Acho que você ia gostar de saber que
mandaram uma carta pra você ontem, e o Edgar pediu para eu te entregar. Ele
está meio ocupado no bar, sabe... Suponho que, como veio de Bevelly Hills, a
carta pode ser da...
-Cloe! -Exclamou a garota, fazendo
Kem dar um pulo e sair da janela.
-Desse jeito eu vou ficar surdo!
-Ah, me desculpa, foi sem querer. É
que...
-Eu sei, eu sei, você não vê ela e a
Sacha desde os 12 anos. –Ele comentou, deixando-se cair na cama e pensando:
“Será que ela iria sentir minha falta se eu fosse embora também?”.
-Sabe que eu sentiria a mesma coisa
por você, não é?
-Sentiria?
Foi sorte Ken não estar na janela
essa hora, senão teria visto Alyson enrubescer drasticamente. Ela recuperou o
fôlego e respondeu se segurando para não gaguejar: -É, sentiria.
-Bom saber. Preciso ir. Vem pegar a
carta amanhã?
-Vou. Boa noite.
-Pra você também. E bons sonhos.
Alyson não pode segurar um risinho.
“Se eu sonhar com você pra mim já está ótimo”. -Vejo você amanhã.
-Tchau.
Ken desligou, imaginando consigo
mesmo se não seria perigoso (pra não falar de irresponsável), tentar se
aproximar de Alyson quando um retardado mental e maníaco estava no pé dele. -
É, assim não dá. Mas se eu esperar muito posso perder a oportunidade. - Sem
mais delonga, deitou na cama e foi dormir.
Alyson demorou mais tempo para cair
no sono. Depois de desligar o telefone, teve a impressão de ter visto, de
relance, uma dama de branco, clara, loira e de olhos brancos, observando-a da
janela. Mas só por alguns instantes. Bem que Alyson pensou ser um fantasma no
começo (Não tinha medo de espíritos, mais se algum chegasse perto ela se
mandaria). Logo descartou a hipótese, pois a aparição não deu mais sinal de
vida, e, como ela estava caindo de sono há um minuto poderia ter sido uma
ilusão de ótica, um efeito do cansaço. Mas por um longo tempo achou sentir uma
presença estranha naquela noite, e por muitas semanas essa sensação não mudou
em nada.
Alyson é uma adolescente diferente,
do modo de pensar ao modo de encarar seus problemas (muitos por sinal). Tem uma
mente aberta, sendo muito teimosa, mas também muito ciente dos seus erros.
Conta com uma recuperação física assombrosamente rápida, nunca tendo quebrado
um osso ou ficado no hospital, internada. Apesar de sempre parecer alegre, não
se sente feliz em Petrópolis, onde mora com a mãe, Leah Valoem. Sua mãe dizia
que nascera em outro lugar, e não no Brasil, mas toda vez que a filha
perguntava Leah dava um perdido, e nunca respondia. Outra incógnita era o pai.
Nunca o vira, e sua mãe recusava-se a mencionar qualquer coisa sobre ele. A
verdade é que sentia uma enorme falta de uma presença paterna, e o silêncio de
Leah só piorava tudo.
Alyson tinha duas amigas, Cloe e
Sacha, as quais ela não via há cinco anos. Cloe tinha se mudado da sua casa,
que ficava no centro de Petrópolis, para morar com o pai, depois que sua mãe
morreu num acidente de automóvel. A casa de seu pai ficava em Bevelly Hills, o
que causou a primeira separação marcante na vida de Alyson. A segunda ocorreu
uma semana depois. Sacha, que morava na mesma rua que Cloe, teve que se mudar
para Tókio, pois a irmã mais velha, Naoco, tinha recebido uma proposta de
emprego irrecusável. A irmã mais nova era responsabilidade dela, já que seus
pais morreram numa queda de avião.
Resumindo, ela estava só. Mas no dia
da separação chegou uma ajuda inesperada. Pois nesse momento chegava na cidade
(para ser mais precisa, na casa ao lado da garota), um jovem chamado Kensuke
Himura.
Alyson estava nos degraus em frente
da porta da sua casa, encostada no degrau de cima, abraçando os joelhos e
olhando melancolicamente para o horizonte. Nem sabia porque estava ali. Nesse
meio tempo o rapaz se debruçou no portãozinho de entrada, e ficou olhando,
tomado de compaixão por aquela pessoa tão triste. Apesar de estar bem na frente
dela, Alyson não o viu. Estava concentrada demais em seus pensamentos para
percebê-lo.
-Eu detesto a minha vida. -Resmungou
ela, num acesso de raiva, o que estava ficando muito presente na sua
personalidade recentemente.
-Que lástima. Pensei que era
diferente das outras pessoas que eu conheci, mas acho que me enganei. - Alegou
o rapaz, com uma voz suave, e fazendo com que Alyson desse um pulo de susto.
-Quem é você?
-Para começar o seu novo vizinho.
-Que bom. –Ela retrucou, com o mesmo
tom de voz de quem diz “mais essa!”. -Se não se importa, vizinho, estou muito
ocupada não fazendo nada.
-Vichi, que mau humor. É assim que
você trata todas as pessoas?
-É assim que eu trato todos os que me
enchem.
-Ai, isso feriu meus sentimentos.
-Debochou Ken. Seria difícil para ela o mandar embora, já que o que ele tinha
de bonito (o que não é pouca coisa), ele tinha de teimoso. E não lhe agradava
nada a idéia de ser rechaçado por uma pirralha três anos mais nova do que
ele.
-Se eu fosse você ia embora antes que
eu resolva ferir algo de verdade, e não vão ser só os seus sentimentos.
-Calma, eu só estava brincando. Não
vamos começar com o pé esquerdo, vamos?
Ela nada respondeu, mas o olhou com
uma cara de: “vamos, se continuar tirando uma da minha cara...”.
-Sou Kensuke Himura. -Se apresentou
ele, estendendo a mão.
-Alyson Valoem. -Disse ela, apertando
a mão dele. -Mas vê se não fica achando que já sou sua amiga. Isso ainda vai
levar tempo.
-Pode ficar fria, não vou achar.
Até que nem levou tanto tempo assim.
Umas semanas depois, os dois tinham se tornado quase inseparáveis. E por cinco
anos ficou desse jeito, ou melhor, até agora.
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