Terceiro
capítulo: Remorso (parte v).
-Você
está bem?
-Vou
ficar. -Respondeu Alyson, entrelaçando sua mão na de Ken.
-Sei
como você está se sentindo. Uma vez tive que romper com uma
garota...
-Você
nunca disse que teve uma namorada. -Ela lembrou.
-Acho
que foi porque não era importante. Foi há dois anos, quando viajei
para Nova York, se lembra?
-Tenho
uma vaga lembrança. Ficou lá por uns três meses, não foi?
-Foi.
Eu conheci lá uma garota simpática. Dizia ela que me amava, mas
durou pouco tempo para eu perceber que não sentia a mesma coisa. As
vezes a gente confunde amor com amizade, e nada de bom sai disso.
-Ken pareceu pensativo, e Alyson se perguntou o que estaria passando
pela cabeça dele naquele momento. Não perdeu muito tempo pensando
nisso.
-E
ai, o que você fez?
-Rompi
com ela, o mais delicadamente que consegui.
-E?
Alyson
sentiu seu ar faltar e apertou mais ainda a mão de Ken. Ele a
sacudiu levemente para fazê-la voltar ao normal. Passou a mão livre
delicadamente pelo seu rosto. -Hei, hei está tudo bem... Eu cheguei
antes que ela pudesse tentar fazer algo consigo mesma.
A
falta de ar dela chamou a atenção. Agora Cloe e Sacha estavam
olhando para eles, preocupadas. -Está tudo bem ai atrás?
-Está.
O Ken só está querendo me matar do coração, nada de mais. -Disse
Alyson, sarcástica.
-Eu
estou contando a história da minha ex-maluca para ela. -Contrapôs o
rapaz.
-Aquela
da garota que queria saltar de um prédio de vinte andares por sua
causa? A que você contou hoje de manhã? -Questionou Cloe.
-Você
sabe? -Perguntou Alyson, de olhos arregalados.
-Todos
os três sabem, eu fiz a burrice de ficar contando as minhas
amarguras para a Cloe, e esse pessoal que não tem mais nada para
fazer parou para escutar. -Reclamou Ken.
-Ele
estava carente, tem que dar um desconto né? -Dedurou Cloe, que não
perdia a oportunidade de tirar sarro com a cara de Kensuke de vez em
quando.
-Mas...
Um prédio de vinte andares?
-É.
Ela tentou mais de dez vezes se matar, ai um belo dia a família
internou ela num hospício e avisou que se eu não sumisse de perto
dela ia acabar levando um tiro. -Ele completou, dando de ombros.
-Eles
iam dar um tiro em você com o quê? -Questionou, rezando para que
fosse só uma figura de linguagem.
-Com
a espingarda carregada que o pai dela deixava na garagem. -Ele
respondeu, fazendo uma cara de “o que eu podia fazer?”. -Me sinto
culpado até hoje... Era uma garota tão feliz...
-Ainda
bem que não vou ter que me preocupar com uma coisa dessas.
-Quem
lhe garante que o romântico francês não vai fazer nenhuma burrice?
-Eu
sei que ele não vai. - Ela alegou, decidida.
-Como
pode ter tanta certeza?
-Ele
prometeu para mim. -Foi a resposta dela. -Se jurasse algo por mim,
você quebraria a promessa?
-Jamais.
-Então.
Ele não vai fazer nenhuma besteira, tenho certeza que não.
Ele
não respondeu. As mãos dele se soltaram das dela, o que causou um
olhar torto de protesto. -Devia ter ficado com ele. Eu não sou um
santo. Já te fiz chorar. Já fiz você sofrer. Eu menti. Por que não
ficou com ele? Francis nasceu em Diamante, sabe onde ficam os
portais. Era só pedir, e ele a levaria até ao céu, se fosse
possível.
-Está
se perguntando por que você é meu namorado?
-É...
De certa forma.
-Porque
amo você, não ele. Isso te satisfaz? -Ela perguntou, o encarando
com seus belos olhos castanho-esverdeados, agora mais verdes do que
jamais tinham ficado antes.
Ele
entrelaçou novamente sua mão na dela e lhe deu um beijo demorado.
-Claro que sim.
Alyson
olhou-o por um breve minuto, tentando relembrar algo que tinha
escutado há pouco tempo. Do nada ela o fitou e perguntou: -Será que
a sua carência hoje de manhã tem alguma coisa a ver comigo?
-Isso
é uma pergunta para mim?
-Pode
se considerar.
Ele
corou um pouquinho antes de responder: -É. Tinha tudo a ver com
você.
-Amo
você. -Ela disse baixinho, deitando a cabeça no ombro dele. O rapaz
passou o braço por trás das costas da jovem e encostou a cabeça na
dela. O barulho do motor do hidroavião foi lhe dando sono, e logo
ele fechou os olhos e adormeceu. Porém Alyson não conseguiu dormir.
Ela pensava como tudo aquilo tinha sido difícil. Como ela queria que
Francis não fizesse nenhuma burrice. Como ela queria, simplesmente,
esquecer.
Mitaray
cutucou insistentemente Hiei para que ele abrisse os olhos. O trem
parara na estação de Farem, e o jovem ainda dormia a sono solto.
-Qual
é? Não se pode nem mais dormir nesse lugar? -O rapaz resmungou,
enquanto abria os olhos.
-Chegamos,
criatura. Vamos logo, temos que pegar nossas coisas. -Replicou
Mitaray. Ele parecia inquieto, o que chamou a atenção do amigo.
-O
que está pegando?
-Como?
-Fala
sério, Mitaray, te conheço há anos. Acha que não sei reconhecer
essa sua cara de apreensão quando a vejo? –Retalhou Hiei,
levantando-se de um salto e ficando de pé.
-As
linhas de comunicação estão cortadas. E pelo visto não é só
aqui. Estão dizendo que o reino inteiro está sem comunicação.
-Fala
sério, não se pode cortar uma linha de comunicação,
principalmente porque ela é feita de som, não de matéria.
Mitaray
o observou por alguns instantes, incrédulo.
-Que
é? Eu frequentei a escola, para a sua informação. -Alegou Hiei,
aparentemente ofendido pela surpresa do colega.
-Eu
não disse nada. –Contestou Mitaray, estreitando os olhos. –Mas
acho que você está muito na defensiva.
-E...
–Ele se calou imediatamente. -... Ta legal, só cursei até a
oitava série. Mas não quer dizer que sou burro.
-Jamais
diria uma coisa dessas.
-Não
é?
-Não.
Eu diria ignorante, talvez até incapaz… Mas burro não.
-Nossa
to me sentindo muito melhor. –Retrucou Hiei.
-Vai
se acostumando. Agora podemos ir?
O
rapaz resmungou alguma coisa e agarrou suas malas, seguindo de perto
Mitaray. Os dois saíram do trem. Uma madrugada fria e úmida os
recebeu, resto de uma tempestade que, tão inesperadamente como veio,
se fora, deixando para trás habitantes preocupados e alarmados. Eles
se entreolharam por alguns instantes e, tomando coragem, entraram
pelo caminho sinuoso que levava à Sede Black. Mitaray dava umas
olhadas por trás dos ombros, sentindo aquela sensação
desconfortante de achar que estava sendo observado.
Já
Hiei, quase caindo de sono, mal poderia pensar nisso. Talvez só não
estivesse batendo nas arvores da trilha por ter um treinamento muito
bom, com um mentor melhor ainda. Era seu costume dizer que, para ir a
uma missão de campo, era indispensável um meio de transporte. De
preferência grande o suficiente para que pudesse dormir dentro dele.
Não era especialista em fazer plantão, mas em compensação era um
piloto excelente, que apesar de jovem já havia estado em quase todos
os lugares de Diamond.
O
caminho terminou de frente a uma grande mansão. Era grande como um
centro de pesquisas, luxuosa como o mais belo palácio e fortalecida
por defesas insuperáveis, mais poderosas que a força de mil
exércitos. Era uma verdadeira fortaleza, onde aqueles que eram
considerados inimigos pereceram, sem terem tempo nem para pensar no
que fazer para escapar.
Mas
Hiei e Mitaray não eram inimigos, muito pelo contrário. Apesar de
Íris repetir ardorosamente para não se meterem no que não era da
conta deles, os dois sempre lhe davam uma mão quando ela mais
precisava. Isso criara uma amizade muito forte entre eles e os
membros da Equipe Black.
Mitaray
tirou os pensamentos infelizes que lhe cobriam a face e tocou a
campainha. Uma câmera mais escondida que ficava sobre a porta captou
sua imagem, levando-a ao computador central em instantes. Alguns
minutos depois, uma mulher morena de belos cabelos castanhos e uma
franja desarrumada abria a porta. Sua boca não conseguiu refrear um
sorriso: -Rapazes, como é bom ver vocês. –Disse Íris, enquanto
abraçava um de cada vez, amigavelmente. –Vamos, entrem logo.
Precisam descansar.
O
jovem fitou-a com os olhos acinzentados e deixou o rosto iluminar-se
com um breve sorriso. O sorriso de Mitaray era tido como tranquilizador, podia acalmar ou deixar alegre quem o presenciasse.
Era, contudo, muito raro, e só dirigido a aqueles que realmente
tinham sua afeição. Por enquanto não eram muitos. A vida de
guerreiro era muito difícil, cercada de traições, sangue, carne
despedaçada e feridas incuráveis. Como uma pessoa tão gentil podia
sobreviver assim?
Dou-lhe
a receita: 1˚, arranje um amigo muito doido e que fale bastante
besteira, de preferência COM SENSO DE LIMITE. 2˚, evite chamar
atenção. A fama é muito ruim quando tem milhares de monstros
querendo despedaçar você. E, para não correrem o risco de irem
parar no cemitério, muitos ainda preferem o anonimato. 3˚, e mais
importante... Situações extremas pedem medidas desesperadas.
Portanto, se você bater no cara até cansar e ele continuar inteiro,
querendo matar você, não pense duas vezes: CORRA!
Eles
entraram na grande casa, e foram recebidos por Dave. Ele era o
grandalhão da Equipe. Tinha músculos de ferro, tão definidos e
grandes que uma bicha (sem preconceito, ta?), ou cairia a seus pés,
ou correria assustada. Era bonito, tendo pele morena e grandes olhos
verdes. Os cabelos eram curtos, às vezes revoltosos, às vezes
comportados (a base de muito gel). Tinha um senso de humor marcante e
uma sinceridade sem igual. Devia ter uns 28 ou 29 anos, mas parecia
muito mais jovem. Adorava os seus amigos mais que tudo. Era casado
com Taylor. E, acima de tudo, amava a natureza, apesar de não
parecer.
Já
a sua esposa tinha 28 anos. Ela tinha uma pele avermelhada, cabelos
tão lisos que parecia impossível e olhos cor-de-mel, amendoados,
quase inocentes. Devia, de algum jeito, ter vindo do Mundo Real. Era
descendente de índios. Seu passado não era muito conhecido, o que
nem assim impediu o casamento com Dave, ou a amizade para com os
outros. O único vestígio dele era carregado junto a ela sempre: uma
cicatriz feia, bem abaixo do ombro, que podia ser vista toda vez que
a mulher usava camiseta. Era alta, medindo mais ou menos um metro e
setenta e cinco. Inteligente, tranquila
e séria, era a mais centrada, porém às vezes deixava sua obsessão
por tentar fazer tudo dar certo atrapalhar seu dia-a-dia, e seus
relacionamentos.
Devia
estar num desses dias de desanimo e muito trabalho, pois passou
direto por Mitaray e Hiei e se jogou no sofá. Seus olhos sonolentos
passaram pela sala, reparando finalmente nos dois visitantes. Os três
se entreolharam. Por fim ela conseguiu esboçar um sorriso, e falar
baixinho, rouca: -Oi, pessoal. Desculpa, não vi vocês aí.
-Ela
pegou uma gripe forte... –murmurou Íris baixinho, perto dos dois.
-Percebe-se.
–Respondeu Hiei de volta, sem ousar levantar a voz. Se existiam
duas pessoas que davam medo naquela equipe era Taylor e Íris. Não,
dessa vez o grande Dave não estava envolvido. O que ele tinha de
músculos, tinha em proporção igual de gentileza e bom
humor.
No caso das mulheres, a 1˚ virava uma fera quando estava de mau
humor, ou quando algo saía errado. A 2˚ era a líder, e tornando a
lembrar, não era bom se meter com ela.
-Vocês
vão se candidatar? –Questionou a mulher, numa voz cansada. Iris
lançou um olhar vago para os dois, enquanto Dave revelava-se
contente demais para quem não sabia de nada...
-Dave!
–A líder alegou, sem se alterar.
-Juro
que desta vez sou inocente! –Defendeu-se ele.
-Mas
você sabia.
-É...
Pois é...
-Não
foi ele que nos convidou a participar, Iris. –Disse Mitaray,
abrindo um sorriso gentil para o velho amigo.
Iris
e Taylor se entreolharam: -Não?
-Não.
Impossível.
Era o tipo de coisa que Dave faria, embora não fosse nenhum crime.
Sua espontaneidade sempre causara problemas. Mas se não fora ele...
-Quem...?
–Iris começou, por puro impulso. No fundo, um nome e um rosto já
pairavam em seu subconsciente. –Da...-Ela foi interrompida no
começo do nome quando uma jovem de 17 anos entrou na sala e, como o
vento, foi para perto dos dois visitantes. Tinha cabelos ruivos e
cacheados, olhos da cor do pôr
do sol
e perspicazes, tez pálida. Era baixinha e magra, mas uma incrível
energia emanava de seu corpo aparentemente frágil. Uma energia que
encheu o salão imediatamente após sua chegada. Estranhamente, sua
alegria absurda e fora do comum era muito bem-vinda.
Ela
deu um beijo em cada um e exclamou, numa voz aguda e alta que fez com
que os outros se encolhessem: -Vocês vieram! Pensei que não
viriam... Afinal de contas, você cumpre o que diz, Hiei...
Mitaray
disse com o olhar algo como “que história é essa?” Ou talvez
“eu sabia que tinha algo por trás dessa história toda”. Mas
lembrou-se que Dayana só se intrometia nesse tipo de coisa quando o
problema era sério. A confirmação viera com a tempestade
inesperada e com os cortes nas linhas de comunicação. De modo que
apenas sorriu para a jovem na sua frente.
-Dayana.
Eu devia ter suspeitado. –Ponderou Iris, como quem confessa um erro
sem importância. –Diga-me, garota, você é surda ou simplesmente
perdeu o juízo? Acho que deixei bem explícitas
as ordens de Não DEIXAR A NOTICIA VAZAR... -Ela repreendeu, sem
levantar muito a voz. Dayana era uma incontrolável força da
natureza quando resolvia fazer alguma coisa. Era a mais nova da
equipe e, para Iris, quase uma filha. Por isso que a líder tentava
frear seu entusiasmo “catastrófico”. Era a promessa que fizera
quatro anos atrás, quando ela fora deixada na sua porta, por ninguém
menos que o Senhor do Palácio de Granito, alegando que a
pré-adolescente acabara de ficar órfã: a mãe morrera de uma
enfermidade cruel, e o pai, em umas das muitas batalhas contra
Haradja (este último era amigo de longa data da Equipe).
Neste
dia ela jurara não perder a cabeça e criar a filha do seu valoroso
amigo. O que não sabia era que ela tinha um problema sério de
hiper-atividade. Mas se esforçou, e ali estavam elas. Agora a
empolgação exagerada da jovem tinha sido catalisada e desviada para
fins mais produtivos: como mandar recados e dobrar decisões já
determinadas (principalmente quando se tratava de uma ordem absurda
de Nicolas).
Mitaray
olhou Iris com as sobrancelhas soerguidas em uma expressão de
interrogação: -Vazar?
-É...
Não que quiséssemos deixá-los de fora. Mas tentamos fazer as
convocações o mais sutilmente possível, para não atrair a atenção
de Haradja. –Comentou Taylor.
-Então
não estávamos na lista de convocação? –Questionou Hiei,
abatido.
-Mas
é obvio que estavam! Só que alguém confundiu o banco de dados do
computador e não pudemos mandar a mensagem. E quando conseguimos
reiniciar, as linhas de comunicação foram cortadas. Foi sorte
Dayana ter saído, para falar a verdade, ou então não teríamos
conseguido avisá-los a tempo.
Iris
não pôde deixar de concordar e lançou um olhar de desculpas para
Dayana, que acenou com a cabeça, em sinal de “desculpas aceitas”.
Hiei deu um suspiro de alivio, enquanto Mitaray brincava: -Viu, quem
mandou ser apressadinho?
O
rapaz ignorou-o completamente e questionou: -E por que essa súbita
mudança de planos? Quer dizer, geralmente não eram um grupo
fechado?
-Nós
somos um grupo fechado. –Corrigiu Taylor.
-Então
por que mudar? O que fez com que chegasse a esse ponto, Iris?
Taylor
ia dar uma resposta rude quando Iris a interrompeu, fazendo-lhe um
sinal de silêncio. –Esfrie a cabeça, Taylor. Posso responder
isso. –E virando-se para os dois colegas, explicou: -Temos
procurado muito tempo pela salvação de Diamante.
-Sabemos.
–Disse Mitaray, sério: -A garota a quem chamam de Kit Black.
-Sabem
também que suspeitávamos que estivesse no Mundo Real. E que
mandamos vários amigos em seu rastro... Até mesmo, recentemente, o
próprio Crós.
Ele
balançou a cabeça, afirmativamente. Mas sua expressão mudou quando
ouviu a parte de crós, dita depois de um breve intervalo.
-Crós
foi para o Mundo Real?
-Já
vão se completar dois dias desde a sua partida. Uma mensagem chegou
aos Deuses. Ela foi mandada pela Morte. A garota foi encontrada.
-Isso
quer dizer que ela...
-Morreu?
Sim. Mas, para nossa sorte, ela ainda tinha uma missão para
cumprir... Salvar Diamond...
E então lhe foi dada uma segunda chance.
-Incrível.
–Murmurou Mitaray, atônito. Era muito difícil ele ficar atônito,
e Dayana não conseguiu evitar uma risada abafada e sutil ao ver seu
belo rosto pasmo. –Quantos anos faz que houve a última
ressurreição aqui em Diamante?
-Muitos,
e mesmo assim o homem era um feiticeiro poderosíssimo. –Comentou
Dave.
-E
ela, aparentemente sem nenhuma noção de magia, conseguiu reviver...
Sem um arranhão?
-Tecnicamente,
Morte garantiu, ela está bem. A chave foi entregue a ela, também.
Estranhamente, parece que ela assumiu outra capacidade, quando chegou
às mãos da garota...
-Outra
capacidade?
-Parece
que ela tinha um instinto antigo. Talvez de uma encarnação
antecedente, há muitas eras.
-Todos
alguma vez fomos animais. –Disse Taylor.
-E,
em nossas reencarnações passadas em que vivemos nesse modo
primitivo, ouve cinco animais que se destacaram... -Continuou Dayana,
vagamente.
-Os
cinco primeiros animais a evoluir para a forma humana eram os mais
inteligentes e ardilosos que já pisaram no mundo animal. O gato
selvagem, o lobo das montanhas, a águia vermelha, a frágil
borboleta e o rebelde peixe-voador. Sua inteligência era tão
absurda que eles desenvolveram a capacidade de falar, sozinhos, mesmo
antes dos Deuses terem sequer pensado em dar este dom a eles.
–Mitaray olhou Iris e ela fez um sinal para que continuasse. –Então
quando morreram, conseguiram reviver nos corpos mais evoluídos, não
da era em que viveram, mas comparados a sua vida anterior. Porém,
como a reencarnação não nos permite acessar nossas lembranças de
outra vida, foram criados medalhões para que os agora humanos
tivessem um jeito para usar suas habilidades de quando eram animais.
Os medalhões davam a possibilidade de que a alma habitasse um corpo
meio humano, meio animal. Assim o instinto ainda estaria ali, e
quando fosse preciso usá-lo para defender outros humanos, poderia
ser revivido.
“Eles
se tornaram protetores da humanidade, mas, como não tiveram filhos,
seus poderes não puderam ser passados hereditariamente. E, quando
faleceram defendendo seus semelhantes, não houve ninguém que
pudesse assumir seu lugar... Até a próxima vez que voltassem a
andar pelo mundo carnal”.–Ele terminou, respirou fundo e
perguntou: -Você acha que ela é a reencarnação de um deles?
-Não
achamos, temos certeza. –Empolgou-se Dave. –Sabe o que é melhor?
Quando eles “vêm”, nunca estão sozinhos. Eles voltam ao mundo
de matéria sempre juntos. E, de acordo com a Morte, nossa amiga
procurada é a gata selvagem.
-Parece
que tiramos a sorte grande. –Mitaray piscou os olhos acinzentados,
uma alegria inundando seu peito. Tinham uma chance. Podiam vencer! A
vida nunca parecera tão disposta a lhes dar todas as armas. Com Kit
ao lado da Equipe Black, Diamante sobreviveria. Todos sobreviveriam.
~Kit Black
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