Quinto
capítulo: Escamas e muito fogo! (parte II).
Kit
deveria saber que aquela não era uma boa ideia. Quer dizer, quando
mandam você buscar escamas de dragão para uma poção de QUASE
invulnerabilidade, e quando você tem que pegá-las de um dragão
VIVO, cercado por seus parentes e que provavelmente vai querer
devorá-lo inteiro, o mais inteligente a se fazer é negar. Mas Kit
era uma boa aprendiz de feiticeiro, e como toda boa aprendiz não
pensou duas vezes antes de resolver ir buscar o que seu mestre
mandou. Na teoria era até fácil. Ir para Dragon, matar um dragão,
arrancar as escamas e voltar. Simples.
Ela
deveria ter aprendido que, quando se tratava de Crós, NADA era
simples.
-Dragões
são criaturas fascinantes… -Começou Mitaray, enquanto saia do
jato mais amado (e utilizado) da Equipe Black. O Jato Fênix era o
meio de transporte mais rápido e prático para ir a qualquer lugar,
e todos usavam e abusavam dele quando tinham chance.
-Fascinantes,
com certeza. É fascinante como eles podem engolir a gente numa só
bocada. Também é fascinante o jeito que eles têm de nos pisotear
ou arrancar pedaços. Realmente, Mitaray, dragões são fascinantes.
–Hiei irônico como sempre, agora descia do jato, depois de
abandonar a cadeira de piloto.
Mitaray
o ignorou. Lançou os olhos cinzas a sua frente, avaliando o local.
Tinham pousado nos limites de Dragon, onde não havia a ocorrência
de dragões. Abriu um sorriso cínico. –Vamos, Kit. Temos um local
para analisar.
A
garota meneou a cabeça. Vestia uma calça, blusa e uma capa, todas
as peças de roupa vermelhas e manchadas de preto e marrom, de modo
que poderia simplesmente se confundir com a paisagem vulcânica a sua
volta se ficasse parada. Como batedores, ela e Mitaray tinham a
função de ir à frente e analisar a situação, antes que os outros
pudessem seguir. Basicamente, num termo mais moderno, espionagem. O
essencial seria que eles não fossem descobertos. Caso fossem, seria
um tanto quanto… Desastroso.
Na
realidade, os quatro usavam de cores dos mesmos tons em suas roupas,
tentando manter-se o mais sutis que fosse possível. Aquela situação
já era bem desagradável sem ninguém morrer. Manteriam suas peles
guardadas para bater de frente com Haradja.
Kit
começava a achar que não era mesmo uma boa ideia. Salem não
poderia simplesmente buscar escamas de dragão numa loja de
feitiçaria qualquer? Deveria haver um lugar daqueles por lá.
Diamond era tão grande e tão… Fora do comum.
-Tenho
de aprender a dizer não para as pessoas. –Ela resmungou consigo
mesma, invocando sua forma felina.
-Realmente,
estamos aqui por sua causa Se virarmos desjejum de dragão, a culpa é
toda sua. –Alegou Hiei. Aparentemente ele não estava nada feliz
com aquela missão.
Ela
abaixou as orelhas de gato, exasperada. –Minha culpa? Não fui eu
que entrei no laboratório sem permissão e acabou derrubando uma
garrafa com mais de um litro de poção de invulnerabilidade.
-QUASE
invulnerabilidade. –Ele fez questão de frisar. –E não fui só
eu. Quem você acha que abriu a porta?
Kit
lançou um olhar acusador para Kensuke. O rapaz estava mexendo em um
notebook, tentando fazer contato com a Sede. Não contente com a
conversa (e muito menos com o fato de ainda não conseguir contatar
nem a irmã nem Cloe), contestou em resposta: -Ele me obrigou. –E,
mudando de posição e de assunto, avisou: -Ainda não consegui
contatar as garotas, mas posso receber informações de vocês dois.
Mitaray
revirou os olhos: -Vamos logo, Kit, quanto mais cedo começarmos,
mais cedo terminamos. E o humor dos dragões não deve ser melhor a
noite do que de dia.
Ela
não pareceu gostar da sugestão de piada, mas o acompanhou mesmo
assim. Puxou o capuz de modo que cobrisse uma boa parte do rosto e
escalou uma pequena escarpa, de modo que durante toda a expedição
pudesse ficar uns bons metros acima de Mitaray. O fato de ter um
instinto felino tornara quase desgostoso ficar muito tempo perto do
chão.
Dragon
era uma, como já foi dito, cidade basicamente vulcânica. A terra
que lhe servia de base era vermelha, e aglomerados gigantescos de
obsidiana se formavam aqui e ali, principalmente nos vales, resultado
de erupções constantes. Uma cordilheira de picos escarpados cor de
sangue formava um semicírculo, cuja abertura era voltada para o
continente. Qualquer embarcação que viesse do oceano encontraria um
fim horrível, pois além do paredão intransponível, ainda teriam
que ultrapassar um recife que percorria todo o mar ao longo da costa.
No centro dessa fortaleza natural, montanhas menores se aglomeravam,
formando algo como um ninho, onde se abriam buracos e grutas. Esse
projeto de “colmeia” era conhecido em todo lugar como Berço das
Chamas. Os dragões se amontoavam naquele lugar exatamente como
abelhas, a serviço de um rei. E o rei tinha paciência zero quando
se tratava de humanos.
Havia
ainda aqueles que se mantinham longe do Berço de Chamas, que
perambulavam ou guardavam a “entrada da muralha”, com um apetite
mordaz e um grande desejo de devorar carne humana. Uns poucos saiam
para caçar.
É
fato que a maioria dos dragões não se alimenta de nada além de
lava quente, para manter seu fogo queimando enquanto viver (e dragões
tem vida muito longa), mas alguns experimentam carne, e nesse sentido
provam do peixe ao ser humano, sem muita preocupação. Raros
“cuspidores de fogo” ousam mais e mantêm sua dieta a base de
vegetais. A esses não existe lugar em Dragon. Lá não cresce nada,
nem um musgo sequer. É uma terra estéril e infértil, cuja única
coisa que prospera é o fogo.
Kit
deixou-se escorregar numa encosta, se escondendo atrás de uma rocha
qualquer, bem a tempo de evitar ser vista por uma coisa que, para
ela, que vivera toda uma vida num Mundo Real, ainda parecia
fantástica. Um dragão vermelho fogo atravessara seu caminho,
voando. A garota se perguntava como aquelas asas, que pareciam tão
frágeis, conseguiam suportar um peso tão grande. Decidiu que não
era da sua conta. Olhou de esguelha para onde estava Mitaray. O rapaz
permanecia tão imóvel que parecia parte da paisagem. Como ela
queria ser tão boa assim…
Certificou-se
que o monstro já havia passado e fez sinal a Mitaray, que já a
procurava, questionando se ela estava bem.
-Essa
foi por pouco… -Ela comentou, pondo-se a subir novamente. Algumas
pedras rolaram, e Kit acabou escorregando para dentro da pequena
fresta mais uma vez.
-Kit?
Você está bem? –A garota ouviu o amigo questionar, de onde
estava. Ela tentou manter-se sempre acima dele, mas agora podia
notar, pelo ângulo de onde vinha a voz, que Mitaray estava num nível
acima dela. Xingou uma imprecaução para si mesma. Detestava ficar
presa. –Estou.
-Consegue
sair?
-Ah…
Talvez. –Chegou para trás, sem ver um novo fosso que se abria ali.
Mas pedras rolaram, e dessa vez ela literalmente caiu. Tentou se
segurar em uma rocha, que se soltou ao seu toque. Tentou cravar as
garras no chão, sem muito resultado. Só caía, sem nada para deter
a queda. Por um instante, pensou que ia encontrar Dona Morte mais
cedo do que imaginava. Foi salva desse destino por uma pontuda
reentrância, que viu surgir na montanha a frente daquela por onde
deslizava.
“Pense
como um gato, Kit”.
Mais
uma vez aquela voz… Mas ela não tinha tempo pra bater papo consigo
mesma dessa vez. Pense como um gato, Kit. Era isso que ela era, em
parte…
Ela
saltou, impulsionando-se com as pernas e usando a própria encosta
como base. Por milésimos de segundos ficou suspensa no vazio, e suas
grandes garras se cravaram na reentrância. Agora, finalmente, tinha
conseguido se firmar. Jogou o peso do corpo para cima, e entrou no
buraco. Ia se lembrar de nunca mais voltar àquele lugar. Respirou
fundo. Tirando as costas cheias de arranhões e a roupa, agora em
farrapos, estava se sentindo bem.
Foi
quando notou que, dentro da reentrância, havia coisas estranhas:
ovos maiores do que qualquer outro que já tinha visto, com uma casca
que parecia ser feita de escamas, e sobre o fogo. Sim, sobre o fogo,
embora ela não soubesse como aquilo tinha ido parar ali, ou
imaginasse quem estaria a fim de comer omelete por aquelas bandas.
Apenas um estava inteiro. Os outros tinham sido destruídos. Pelas
coisas que tinham dentro ou por algum fator externo, ela não sabia
ao certo.
Sua
calda estalou como chicote, inconscientemente. Não estava gostando
daquilo. Um crack medonho fez eco na pequena caverna. O ovo estava
rachando…
-Nicolas,
Nicolas. Quando era uma criança de dez anos, você tinha mais
bom-senso.
O
Senhor do Palácio de Granito lançou ao seu conviva um olhar vazio.
–Se não tem nada pra me dizer de útil, Aldeon, espero contar com
o seu silêncio.
Aldeon
ignorou o comentário. Era um homem aparentemente frágil, de no
máximo 45 anos. Seus cabelos começavam a ficar grisalhos, e tinham
um tom meio rubro e quente, que fazia contraste com os olhos, cor de
gelo. O rosto começava a mostrar sinais de velhice, mas ainda era
estranhamente belo. A boca era uma linha tênue e nada sutil, feita
para sorrir. E seus sorrisos costumavam ser gentis e compreensivos.
Foi
um desses sorrisos que ele mostrou para Nicolas, enquanto afiava a
lâmina de sua espada. Era uma arma larga e temível. Dizia-se que
sua cor mudava de acordo com o humor do dono. Agora, exibia uma cor
acinzentada, o que queria dizer que ou ele estava muito triste, ou
desagradavelmente cansado. Como eram duas coisas que não faziam
parte do seu humor normal, as pessoas começaram a perguntar…
A
espada tinha o punho em formato de uma cabeça de dragão, mesclando
o azul gelo e o vermelho, e sua lâmina era denteada e
implacavelmente afiada. Ele a chamava, amigavelmente, Dente de
Dragão, mas havia quem a chamasse de Lâmina Maldita de Gelo e Fogo.
Se isso chegou aos ouvidos de Aldeon, ele não pareceu se importar.
Era
um cavaleiro do Palácio de Granito desde que se conhecia como gente.
Tinha crescido ali, aprendido a lutar ali, evoluído ali. E era ali
que vira Nicolas pela primeira vez, e tinha se disposto a treiná-lo.
Porém, aquilo acontecera há tempos. Nicolas crescera, e acabara de
perder tudo. Não, ele perdera QUASE tudo.
-Você
não pode ficar assim pelo resto da vida, garoto. É o Senhor do
Palácio de Granito ainda, ou estou enganado?
Nicolas
chiou baixo, e de mau humor respondeu: -Sou um homem, não um garoto.
-Sem
sombra de dúvida o é na idade, mas será que o é na cabeça?
Ele
se dignou a balançar a cabeça em resposta. Ao ver os seus amigos
massacrados, mortos como se fossem pouco mais que nada, tinha sido
tomado por uma tristeza atroz, que parecia nunca chegar ao fim. Logo
a tristeza deu lugar à culpa. Depois ao ódio e ao desejo de
vingança. E pela impossibilidade de poder se vingar, agora não
havia nada a não ser amargura e dor. Estava, sem sombra de dúvida,
no fundo do posso.
-Nick,
meu garoto. Você precisa superar. Ficar trancado no palácio não
irá lhe fazer bem, muito pelo contrário… -Aldeon parou o que
estava fazendo e olhou o antigo aprendiz de relance. –Afinal, é
inútil ficar aqui, se não faz seu trabalho direito. O imperador diz
que está constantemente alheio ao que se passa ao seu redor, e os
Deuses declaram que o seu humor anda terrível.
-Os
Deuses?
-Reidh
e Hera, na realidade… Mas os outros dois também comentaram algo
obre a sua paciência ter encurtado…
-E
dai?
-Você
esquece-se de quem é filho, Nicolas? Esquece-se do lema de sua
família?
-“Vencedores
de batalhas impossíveis”. –Nicolas entoou, mais para si mesmo do
que para Aldeon.
-Acho
que não está tão perdido assim, nobre rapaz.
-Eu
ainda estou combatendo.
-Não
me parece. Aliás, parece mais que você desistiu. E que usa uma
semi-inconsciência e um escudo de amargura pra manter-se a salvo da
dor. Não pode fugir pela eternidade. Você não é imortal.
-Felizmente.
Quando o meu dia chegar, não precisarei mais fugir.
Aldeon
assumiu um esgar de irritação. –Tola criança. E ainda se
autoproclama um homem! –ele desceu Dente de Dragão com toda a
força. Nicolas precisou sair do seu estado de letargia para não ser
partido em dois. Ele puxou sua própria espada, com seu nome gravado
em letras azuis na lâmina, e parou a estocada do mestre. Saltou para
trás, evitando um segundo golpe e um terceiro. Um quarto golpe, dado
em suas pernas com a parte cega da espada, o fez cair. Aldeon deu um
daqueles seus sorrisos fáceis e apontou a ponta de sua espada para o
pescoço de Nicolas. Este arfou, exasperado. Não esperava aquilo.
Ainda estava tentando entender.
-Por
quê…?
-Porque
você tem de voltar pra guerra, Nicolas. Ou seus amigos terão
morrido em vão. Precisa lembrar que ainda há pessoas com as quais
se importa, e elas ainda estão vivas. Deve fazer justiça, e
retornar ao trabalho.
-Acho
que não consigo…
Aldeon
guardou a espada e lhe ofereceu a mão para ajudá-lo a se levantar.
–É obvio que consegue. Você chegou até aqui, indo contra todas
as probabilidades.
-Isso
foi diferente.
-Quem
sabe…
-Você
mesmo disse que eu tinha mais bom-senso naquela época.
Aldeon
apontou um dedo fino e ágil no nariz de Nicolas, alegando: -Não
ouse usar minhas palavras contra mim, garoto. Ainda sou seu mestre.
Ele
deu uma volta na sala, pegou a capa azul-claro que costumava jogar
nos ombros, e conduziu-se a saída do aposento. Nicolas estava na
biblioteca, embora não tivesse paciência para ler coisa alguma ou
estômago para analisar as atrocidades que Haradja cometera ao longo
do mês. Era óbvio que sua intenção era ilhar Sybelle, a capital
de Diamante, onde se encontrava o Palácio de Granito. Suas forças
marchavam, saindo de Soledad e começando a atacar todas as cidades
ao seu alcance. Aldeon passou os olhos pelo último relatório, que
estava em cima da mesa, intocado. Criatura esperta, aquela Haradja.
Esperta e cruel demais para o bem de todos aqueles que lutavam contra
ela.
Suspirou
fundo e finalmente saiu do extenso cômodo. Antes de fechar a porta
atrás de si, afirmou: -Eu nunca desisti de você, Nick, e não vou
fazê-lo agora. Levante a cabeça e lute! E, se cair, levante-se! Se
achar que não consegue, tente outra vez! Você pode vencer essa
batalha impossível, é só querer.
O
rapaz ainda ficou olhando muito tempo naquela direção, mesmo depois
de Aldeon já ter ido embora. Seus dedos roçaram o relatório. Ele
tinha razão, afinal. Estava sendo infantil, parecia mesmo um
garotinho assustado. Sentou-se a mesa e obrigou-se a olhar o pedaço
de papel. Haradja separara seu exército em duas frentes: uma seguia
pelo leste, a comando de Gaia, o esqueleto vivo. Outra marchava a
oeste, sob a bandeira de Mid Night, o pirata demoníaco, e sua corja
de assassinos. Passou a mão pelos cabelos negros. Por Ajax! Onde
estava com a cabeça? Tinha que fazer algo, e já…
Agora
podia ver a tênue luz da manhã passar pelas janelas. Luz… Não se
sentia mais tão no fundo do posso. Ele ainda estava lá em baixo,
mas agora podia voltar superfície. Vamos,
Nicolas, escale…
Abriu
um mapa sobre a mesa. Prevendo táticas de guerra, estratégias para
barrar o avanço da imortal. Não poderia fazer isso sozinho…
Lançou um olhar para Farem, onde um pequeno pontinho negro feito à
caneta marcava o exato local da Sede Black. Iris o ajudaria. E a
garota estava lá… Quase se esquecera disso. Tapado, idiota… A
garota tinha sido o motivo daquilo tudo, e ele a esquecera. Sentia-se
horrível por isso. Abandoná-la não era opção. Nunca tinha sido.
Vamos,
Nicolas, reaja e suba…
Aldeon
fizera bem em lembrá-lo. Ainda havia pessoas as quais ele daria a
vida para salvar. Era nisso que ele se apoiaria.
Vamos,
Nicolas, você consegue!
Uma
revoada de plumas tirou sua concentração. Conhecia bem aquelas
plumas. Retirou uma que havia caído sobre o seu nariz e saldou o
recém-chegado…
-Majestade…
-Nick.
Parece que seu humor melhorou consideravelmente…
-Acredito
que seja agradável o suficiente agora, certo, Reidh?
O
Deus fez um leve aceno com a cabeça e lhe ofereceu um sorriso
juvenil. –Sem dúvida.
-Alguma
notícia da Sede Black?
Reidh
farfalhou as asas, desconfortavelmente. –Me parece que Iris mandou
os novatos em sua primeira missão, hoje.
Nicolas
franziu as sobrancelhas. –Que tipo de missão?
O
elfo se deslocou pela sala, mudando de assunto: -Me disseram que
ficou aqui direto nos últimos dias. Não sei como consegue. É
fechado e abafado. Parece uma gaiola.
É.
Parecia mesmo. E Reidh sabia disso muito bem, já que detestava
lugares fechados, perto do chão, ou pequenos. “Um Deus do Ar tem
que ser livre pra ir onde quiser. Precisa ser como seu elemento”, O
Deus lhe dissera certa vez, e foi nesse dia que ele chegou a
conclusão que Reidh estava onde deveria estar. Entretanto, isso
significava que o Deus dos rumores sempre estaria por perto, quando
ele quisesse ou não, lhe contando ou roubando-lhe histórias para
passar adiante. Ele era mais confiável e mais correto que qualquer
jornalista… Mas isso não o tornava menos inconveniente…
-Você
não respondeu a minha pergunta, Deus da Fofoca. –Nick ousou
afrontar. Ele viu quando Reidh baixou as orelhas pontudas, com uma
profunda irritação e respondia, enquanto girava uma pena alva entre
os dedos. –Deus dos RUMORES. E, se te interessa tanto saber, Kit
foi para Dragon. Procurar por escamas de dragão.
Nicolas
sentiu como se tivesse escorregado ao subir a parede do posso que se
esforçava tanto para deixar. Não
seja tolo, Nicolas, você não cairá…
-Dragon?!
Iris mandou ela para… -Ele começou, atônito, logo passando para o
modo “vou matar alguém”: -Qual é o problema daquela mulher?!
-Não
faço ideia. –Reidh disse, sem se importar se o Senhor havia lhe
escutado ou não. –Mas gostaria imensamente de saber…
-Deuses,
olhem por mim…
-Ah,
nós já olhamos por você desde o seu nascimento, e acredite, pelo
menos pra mim só me deu dores de cabeça.
Nicolas
observou-o de esguelha. –Estava sendo retórico. Força do habito.
-Claro,
claro. Aqui, se quiser que eu olhe pela garota também eu posso ir…
-Pra
ter outra história pra espalhar? Não, obrigado. E além do mais,
você não pode interferir diretamente…
-Não,
mas posso interferir indiretamente.
-Não,
Reidh. Deixe-a em paz. Ela vai se dar bem.
-Será?
-Esqueceu
de quem ela é filha? –Questionou Nick, ao que o Deus objetou com
uma gargalhada.
-O
sangue que corre nas veias não faz o herói, meu caro.
-Não.
Mas a fé faz.
Reidh
sorriu-lhe uma última vez. –Espero que a fé de todos seja bem
forte… Até mais, Nick.
-Até…
Ele
desapareceu em outra revoada de plumas, deixando Nicolas só e com
muitas penas espalhadas pelo chão. Pouco a pouco essas foram
desaparecendo, até não sobrar nenhuma. O rapaz fitou novamente o
mapa, destampando uma caneta qualquer que estava à vista e fazendo
um círculo, vermelho, sobre o território de Dragon. Tamborilou os
dedos no tampo da mesa, um tanto quanto aflito. O que Iris pensaria?
Tentou deixar esse assunto para depois. Não podia se meter, por
enquanto…
Por
enquanto.
Vamos,
Nicolas. Você deixou o poço. É hora de combater…
~Kit Black
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